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segunda-feira, 24 de julho de 2023

PIPOCAS DO ZÉ

 


     Quase no desfecho de minha época de criança, indo para o limiar da minha adolescência, inocentemente, surgiu a oportunidade de meus primeiros momentos com a responsabilidade financeira, e com o advento, poderíamos assim dizer, do primeiro subemprego. Meu pai era ferroviário numa pequena cidade do Rio Grande do Norte e acabara de ser transferido para a cidade de Itabaiana, na Paraíba. Era o ano de 1971 e eu estava com 10 anos de idade. Ele havia comprado uma pequena casa na Rua da Palha, num bairro mediano. 

     Meu vizinho, apenas conhecido por Zé, tinha uma pipoqueira e, geralmente à tardinha ele saía para vender pipocas salgadas. Naquela época, ninguém conhecia pipocas doce. Seu carrinho de pipocas era simples e fabricado artesanalmente em oficinas de quintal, por artesões e mestre artífices que ainda existiam na década de 1970, vestígios dos famosos mestres artesãos e artífices tão conhecidos desde tempos remotos e da Idade Média. Minha escola era no turno da manhã e, em contrapartida todas as tardes, da janela da minha casa, eu observava diariamente aquele senhor empurrando seu carrinho de pipoca para vender pelas ruas da pequena cidade.

     Era pequeno o carrinho de pipocas do Zé; com sua base de madeira e recoberto de alumínio, refletia intensamente, as luzes que o clareava. Tinha para suporte, em suas laterais, duas rodas de bicicletas, e para sua dirigibilidade, duas hastes de madeira, às quais, se transformavam na base para que o Zé pudesse determinar sua direção, com suas próprias mãos. Havia uma porta na parte de trás, onde Zé podia fabricar suas pipocas, tendo como combustível um botijão de 13 quilos de gás de cozinha. A parte de cima era quadrada, mas rodeada de vidro, sendo que os mesmos, protegiam as pipocas prontas e que ficavam às vistas dos transeuntes. Para conquistar seus fregueses, também havia no centro do compartimento das pipocas, um lampião à base de gás butano, que servia tanto para esquentar as pipocas já prontas, como também, para iluminar o produto durante à noite, além de sair iluminando as ruas da cidade.

     Eu, recatado, no meu canto, todos os dias vendo da minha singela janela, o carrinho de pipoca sair sem destino, para o mundo...! E eu, desolado, sentindo aquele cheirinho, específico, de pipocas no ar, dooooiiidddoo para degustá-las. Essas cenas cotidianas foram, demasiadamente, me alimentando com a perspectiva de que um dia, eu conseguiria acompanhar aquele tão maravilhoso carrinho de pipocas. A sensação de todos os dias em ficar olhando a saída daquela graciosa pipoqueira, me alimentou o sonho de um dia vender pipocas. Sim! Eu já estava com a aspiração de ser um microempreendedor, ter uma pipoqueira como a do Zé, e ser um avultado vendedor de pipocas.

     Zé era filho de Seu Aprígio, eles eram nossos vizinhos. Em função de tanto falar daquela pipoqueira, certo dia, Zé me convidou para acompanhá-lo e para ajudá-lo. Incalculável foi a minha felicidade, em poder sair com o Zé pelas ruas da cidade vendendo pipocas. Primeiro porque, aqui e acolá eu ia saboreando umas pipoquinhas. Caminhando junto à pipoqueira à noite pelas ruas da cidade, eu me sentia como se fosse o centro das atenções, visto que o lampião a gás, ao mesmo tempo que clareava as pipocas, também me iluminava... era um verdadeiro holofote...! que me fazia sentir-se artista. Vender pipocas na pipoqueira do Zé, foi um sonho realizado.    

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