Cara amiga Ana Paula,
Paro e penso para refletir pausadamente
numa resposta sobre a qual me perguntas: “– Como justificar nossa existência?”.
O que me veio à memória em função da tua indagação fez-me exercitar minhas
instigantes adrenalinas e meus plácidos neurônios...! Também serviu como
exemplo a mim mesmo, para refletir profundamente sobre o pensar...! O que eu
penso...! E ainda, o que eu penso sobre o que você pensa...!
Esforcei-me ardorosamente como um
andarilho viajante, para conseguir interpretar esse tão grande enigma desta
oculta e serena esfinge, que dilacera os corações dos pobres mortais. Por
conseguinte, eis aqui as mal traçadas linhas, às quais, consegui desenvolvê-las
em estado de letargia, em função da tua tão cautelosa insistência.
A morte só é interessante porque ninguém
ainda conseguiu decifrá-la. Só há vida porque há morte. Apesar de parecerem
opostos extremos, acredito que vida e morte estão ligadas por um fio. Assim, também
funciona com a tragédia e a comédia. Deus só existe em função do Diabo. O bem
está entre nós, em constante luta contra o mal. O pecado existe para ser
perdoado. Sem o perdão, o pecado não teria razão de ser. Lembre-se que os
músculos que nos fazem chorar, são os mesmos que nos proporcionam risos e
gargalhadas. Quando a sensibilidade é plena, estamos sujeitos a verter lágrimas
tanto ao rir quanto ao chorar.
Portanto, minha querida Ana Paula, entre
tantas interrogações e perquirições, estou cônscio de que o melhor para a
existência é viver o aqui e o agora. Carpe diem...! Viver os momentos e os
segundos! Aproveitar esta dádiva que é a vida, e o ciclo vital nos proporciona.
Fundamental é refletir os momentos difíceis para soerguer e seguir a vida
plenamente. O essencial é viver a vida em paz e valer-se intensamente dos momentos
alegres e prazerosos...! Estes sim, nos engrandecem introspectivamente,
alimentado o nosso espírito (se é que ele existe?), torna grande nosso eu,
representado na individualidade metafísica de cada ser humano.
Tanto tempo que nós nos vemos, e jamais
pensei que eu fosse me aproximar de você, assim como está naturalmente
acontecendo. Você tem alguma explicação para isso? Eu também não...! Só sei que
a vida é cheia de surpresas...! E quando a surpresa é boa não deveremos
desperdiçá-la...!
A nossa existência caminha em função dos
encontros e desencontros, porque a vida, o mundo e o espaço sideral, são
dialéticos. Também somos dialéticos, levando-se em consideração que nosso corpo
muda a cada instante. Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático já dizia: “–
Ninguém pode entrar duas vezes nas águas do mesmo rio”, visto que o rio está em
constante mudança. Mais ainda, porque também o está quem nele mergulha. Há que
imaginar que tudo flui e nada dura infinitamente.
Sendo assim, nossa existência se justifica
em função de que tudo é dialético...! Até no que é estático há vida, como a
areia e as pedras que se nos apresentam inertes. Como entender que por durante
anos e anos, os pigmentos da areia penetram lentamente e pacientemente no corpo
de um peixe esquecido ao relento e o transforma em pedra? O conhecido fóssil!
René Descartes, filósofo e matemático
francês, afirmou: “– Cogito ergo sum”. Penso, logo existo. Karl Max, com o seu
materialismo histórico nos revela que “não é a consciência que determina o ser,
mas, o ser social é quem determina a consciência”. No existencialismo, Jean
Paul Sartre, considera cada homem como ser único que é mestre dos seus atos e
do seu destino, defendendo que “a existência precede a essência”. Assim sendo,
minha cara amiga, aparo-me no refúgio do “eterno retorno”, do filósofo alemão
Nietzsche; e com sabedoria lhe devolvo a pergunta à qual, você me indagou
inicialmente: “– Como justificar nossa existência?”. Beijo e abraço apertado.
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