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domingo, 5 de fevereiro de 2023

CARTA A UMA AMIGA

 Cara amiga Ana Paula,

     Paro e penso para refletir pausadamente numa resposta sobre a qual me perguntas: “– Como justificar nossa existência?”. O que me veio à memória em função da tua indagação fez-me exercitar minhas instigantes adrenalinas e meus plácidos neurônios...! Também serviu como exemplo a mim mesmo, para refletir profundamente sobre o pensar...! O que eu penso...! E ainda, o que eu penso sobre o que você pensa...!

     Esforcei-me ardorosamente como um andarilho viajante, para conseguir interpretar esse tão grande enigma desta oculta e serena esfinge, que dilacera os corações dos pobres mortais. Por conseguinte, eis aqui as mal traçadas linhas, às quais, consegui desenvolvê-las em estado de letargia, em função da tua tão cautelosa insistência.

     A morte só é interessante porque ninguém ainda conseguiu decifrá-la. Só há vida porque há morte. Apesar de parecerem opostos extremos, acredito que vida e morte estão ligadas por um fio. Assim, também funciona com a tragédia e a comédia. Deus só existe em função do Diabo. O bem está entre nós, em constante luta contra o mal. O pecado existe para ser perdoado. Sem o perdão, o pecado não teria razão de ser. Lembre-se que os músculos que nos fazem chorar, são os mesmos que nos proporcionam risos e gargalhadas. Quando a sensibilidade é plena, estamos sujeitos a verter lágrimas tanto ao rir quanto ao chorar.

     Portanto, minha querida Ana Paula, entre tantas interrogações e perquirições, estou cônscio de que o melhor para a existência é viver o aqui e o agora. Carpe diem...! Viver os momentos e os segundos! Aproveitar esta dádiva que é a vida, e o ciclo vital nos proporciona. Fundamental é refletir os momentos difíceis para soerguer e seguir a vida plenamente. O essencial é viver a vida em paz e valer-se intensamente dos momentos alegres e prazerosos...! Estes sim, nos engrandecem introspectivamente, alimentado o nosso espírito (se é que ele existe?), torna grande nosso eu, representado na individualidade metafísica de cada ser humano.

     Tanto tempo que nós nos vemos, e jamais pensei que eu fosse me aproximar de você, assim como está naturalmente acontecendo. Você tem alguma explicação para isso? Eu também não...! Só sei que a vida é cheia de surpresas...! E quando a surpresa é boa não deveremos desperdiçá-la...!

     A nossa existência caminha em função dos encontros e desencontros, porque a vida, o mundo e o espaço sideral, são dialéticos. Também somos dialéticos, levando-se em consideração que nosso corpo muda a cada instante. Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático já dizia: “– Ninguém pode entrar duas vezes nas águas do mesmo rio”, visto que o rio está em constante mudança. Mais ainda, porque também o está quem nele mergulha. Há que imaginar que tudo flui e nada dura infinitamente.

     Sendo assim, nossa existência se justifica em função de que tudo é dialético...! Até no que é estático há vida, como a areia e as pedras que se nos apresentam inertes. Como entender que por durante anos e anos, os pigmentos da areia penetram lentamente e pacientemente no corpo de um peixe esquecido ao relento e o transforma em pedra? O conhecido fóssil!

     René Descartes, filósofo e matemático francês, afirmou: “– Cogito ergo sum”. Penso, logo existo. Karl Max, com o seu materialismo histórico nos revela que “não é a consciência que determina o ser, mas, o ser social é quem determina a consciência”. No existencialismo, Jean Paul Sartre, considera cada homem como ser único que é mestre dos seus atos e do seu destino, defendendo que “a existência precede a essência”. Assim sendo, minha cara amiga, aparo-me no refúgio do “eterno retorno”, do filósofo alemão Nietzsche; e com sabedoria lhe devolvo a pergunta à qual, você me indagou inicialmente: “– Como justificar nossa existência?”. Beijo e abraço apertado.

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