Embora não queiramos e não aceitemos, todo ser vivo tem início, meio e
fim. Dessa forma, se torna fácil entender que, basicamente tudo que existe na
natureza, nasce, se desenvolve, se tornar velho e, em seguida, morre. O milho,
por exemplo tem um ciclo de três meses; nesse período, ele é plantado, nasce,
cresce, produz frutos e morre. E esse processo também se dá em relação à terra,
onde tudo está em movimento. No rio amazonas, os canais e bancos de areia
geralmente mudam de lugar ao longo do tempo, por isso, se faz necessário um
prático, para navegar nessas águas. O interessante é que me parece uma
contradição, mas todos frequentam determinada igreja para se salvar, porém
ninguém quer morrer.
Aprendemos a contar nosso tempo, a partir da data do nosso nascimento,
principalmente cultivando e comemorando o dia do aniversário, com a música mais
conhecida por todos: “parabéns pra você, nesta data querida, muitas
felicidades, muitos anos de vida”. Essa
canção nos passa o desejo e a esperança de que tenhamos muitos anos de vida, e
que tenhamos uma vida longa pela frente para viver, e isso nos traz muitas
felicidades, ao saber que conseguimos chegar àquela data, a qual está sendo
comemorada naquele momento. Apesar de divulgarem que a morte vem nos buscar,
entendo que, a cada ano que se passa somos nós que estamos indo de encontro à
morte, visto que ela não vem nos buscar, ela já nasce conosco e nos acompanha
durante nossa vivência.
Dessa forma, literalmente, a morte não vem te buscar, é você que vai
constantemente ao encontro dela, e a cada dia isso se intensifica, é algo
indesejável, mas, inevitável. Temos que observar também, que o morto nasce do
vivo e o vivo nasce do morto, como assim?!
Ora, depois que seus pais morrem, você se torna alguém que nasceu dos
mortos, ou seja, daqueles que já morreram. De outra forma, aqueles que já
morreram, nasceram dos vivos, ou seja, os mortos surgem a partir dos vivos,
porque antes eles estavam vivos. Portanto,
a morte é um partido que ninguém quer se filiar, mas o ser humano tem que
admitir que, durante sua existência, ele está fadado à essa filiação hedionda.
A morte tem uma relação muito próxima com a vida, parece distante, mas
esses dois polos estão ligados por um fio. É o mesmo que acontece entre a
tragédia e a comédia do teatro grego, dois gêneros teatrais que parecem
distantes, mas estão bastante próximos. Então, a morte está definitivamente em função
dessa relação próxima/distante. A morte só existe por causa da vida, e a vida
só existe por causa da morte. E assim, a partir desses elos opostos, este ciclo
se completa.
Além de tudo isso, há que se pensar no partido da morte, e, se ela tem
partido, com certeza é socialista. A morte é socialista, porque todos os seres
vivos têm que passar por ela, indiscriminadamente, ricos e pobres, feios e
bonitos, brancos e pretos, pardos, amarelos, não há como fugir dessa
obrigatória viagem. Esse negócio de que a morte se veste de manto preto e tem
uma foice na mão é invenção de Idade Média. Mas, ela pode até não ser
socialista, mas sempre anda com uma foice, que é um símbolo muito forte. E a
condição de ser preta e usar roupa preta, talvez seja resquícios do racismo
estrutural medieval.
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