O ato de representar é inerente ao homem.
Inicialmente, nos primórdios de sua civilização e sem a necessidade de um
público, o Homo Ludens dá início a
esse milenar processo, a partir dos mais diversificados jogos. Quando ele abate
um animal, se alimenta de sua carne, aproveita seus ossos para construir
utensílios diversos inclusive armas, ele está implicitamente lutando pela sua
sobrevivência.
Mas, quando passa a se vestir com a pele
do animal recentemente abatido e consegue, a partir da mimese, conquistar e dar
cabo de outro ser vivo...! Sem perceber, ele já estava fazendo teatro. Faz-se
necessário entender que esse processo se desenvolveu ao longo dos anos de forma
mítica e religiosa. Contudo, nas mais variadas latitudes e longitudes do
planeta, o homem vivenciou jogos consigo mesmo e consequentemente em grupo.
Na Grécia antiga, toda criança era educada
tendo por base jogos. Platão considerava o jogo fundamental na educação da
criança. O teatro tal como conhecemos hoje, teve início na Grécia antiga em
função de um grande jogo transformado em culto, em que todos participavam (sem
a necessidade de atores nem espectadores), para louvar ao deus Dioniso,
especialmente na época das vindimas.
Até o presente momento, o teatro se
assemelhava a um barco mal construído, sem leme, sem velas, sem vento, sem
motor e sem comandante. Que em busca de cais algures, se viu perdido no meio do
oceano, mas, alimentando as raízes profundas que o sustentaria nas águas da
história, por centenas de anos, e porque não dizer milênios.
Na ocasião, ainda não existia uma bússola
que o guiasse. Até que aos poucos, com o passar dos anos, toda a tripulação foi
se definindo: o Corifeu foi o primeiro; que a partir de um diálogo fez surgir
outro personagem. E assim, todo o cenário foi se concretizando, os atores
assumindo seus papéis, até que certo dia ensolarado apareceu munido de seus
(mapas e textos), os primeiros dramaturgos gregos: Ésquilo, Sófocles e
Eurípedes. E com eles, primeiros mares d’antes navegados, ou seja, as
tragédias, primeiro gênero teatral e literário de que se tem notícia.
A verdade é que através da história e
sobre o tempo, em todos os portos que atracava; esse barco chamado teatro ia
preenchendo os espaços vazios, desde o mais profundo e escuro porão, até as
iluminadas e ventiladas popas e proas. Mas, consistentemente os ventos sopravam
as velas mar adentro. Todavia, nesse barco-teatro sempre havia espaço
aconchegante e suficiente para as comédias, dramas, melodramas, vaudevilles,
revista de ano, tragicomédias, entre outros gêneros que foram surgindo ao longo
dessa viagem mágica e inesperada, cheia de momentos lúdicos. O teatro tem
relação muito estreita com o lúdico, com o homo ludens que existe em cada um de
nós, e a criança é o maior exemplo disso. Sem sombra de dúvidas, o lúdico e o
lúcido nos acompanham paralelamente durante nossa existência. E o teatro nos
faz vivenciar essa emoção.
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