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segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Teatro e Homo Ludens

 

 

     O ato de representar é inerente ao homem. Inicialmente, nos primórdios de sua civilização e sem a necessidade de um público, o Homo Ludens dá início a esse milenar processo, a partir dos mais diversificados jogos. Quando ele abate um animal, se alimenta de sua carne, aproveita seus ossos para construir utensílios diversos inclusive armas, ele está implicitamente lutando pela sua sobrevivência.

     Mas, quando passa a se vestir com a pele do animal recentemente abatido e consegue, a partir da mimese, conquistar e dar cabo de outro ser vivo...! Sem perceber, ele já estava fazendo teatro. Faz-se necessário entender que esse processo se desenvolveu ao longo dos anos de forma mítica e religiosa. Contudo, nas mais variadas latitudes e longitudes do planeta, o homem vivenciou jogos consigo mesmo e consequentemente em grupo.

     Na Grécia antiga, toda criança era educada tendo por base jogos. Platão considerava o jogo fundamental na educação da criança. O teatro tal como conhecemos hoje, teve início na Grécia antiga em função de um grande jogo transformado em culto, em que todos participavam (sem a necessidade de atores nem espectadores), para louvar ao deus Dioniso, especialmente na época das vindimas.

     Até o presente momento, o teatro se assemelhava a um barco mal construído, sem leme, sem velas, sem vento, sem motor e sem comandante. Que em busca de cais algures, se viu perdido no meio do oceano, mas, alimentando as raízes profundas que o sustentaria nas águas da história, por centenas de anos, e porque não dizer milênios.

     Na ocasião, ainda não existia uma bússola que o guiasse. Até que aos poucos, com o passar dos anos, toda a tripulação foi se definindo: o Corifeu foi o primeiro; que a partir de um diálogo fez surgir outro personagem. E assim, todo o cenário foi se concretizando, os atores assumindo seus papéis, até que certo dia ensolarado apareceu munido de seus (mapas e textos), os primeiros dramaturgos gregos: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. E com eles, primeiros mares d’antes navegados, ou seja, as tragédias, primeiro gênero teatral e literário de que se tem notícia.

     A verdade é que através da história e sobre o tempo, em todos os portos que atracava; esse barco chamado teatro ia preenchendo os espaços vazios, desde o mais profundo e escuro porão, até as iluminadas e ventiladas popas e proas. Mas, consistentemente os ventos sopravam as velas mar adentro. Todavia, nesse barco-teatro sempre havia espaço aconchegante e suficiente para as comédias, dramas, melodramas, vaudevilles, revista de ano, tragicomédias, entre outros gêneros que foram surgindo ao longo dessa viagem mágica e inesperada, cheia de momentos lúdicos. O teatro tem relação muito estreita com o lúdico, com o homo ludens que existe em cada um de nós, e a criança é o maior exemplo disso. Sem sombra de dúvidas, o lúdico e o lúcido nos acompanham paralelamente durante nossa existência. E o teatro nos faz vivenciar essa emoção.

 

 

 

 

 

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

PESQUISA PARTICIPANTE

 

 

     Atualmente lecionando a disciplina “Pesquisa em Artes Cênicas” no Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Amapá, que trata da construção do saber científico quando enfoca estudos com perspectivas para elaboração do projeto de pesquisa, o qual será concretizado no Trabalho de Conclusão de Curso. Em função disso enfocamos aqui um pouco sobre a pesquisa participante.

     Ao longo dos anos a elite vai desenvolvendo e se distanciando do homem comum. A academia também mostra essa dualidade quando o trabalho científico tradicional divide o mundo em dois lados opostos: o lado popular, aqueles que são pesquisados em função do seu conhecimento do senso comum, e o lado científico, técnico ou profissional daqueles que produzem o conhecimento determinando seus usos pela maioria da população.

     Todavia, na pesquisa participante, ao que tudo indica, pesquisadores e pesquisados são sujeitos de um mesmo trabalho comum, embora que com situações diferentes. Dessa forma, entende-se que a pesquisa participante pretende ser um instrumento a mais de reconquista popular. Nesse tipo de pesquisa, há sim um envolvimento do cientista entre os atores e a própria comunidade que está sendo investigada, mas ela determina um compromisso que subordina o próprio projeto científico.

      O acadêmico que decidir realizar uma pesquisa participante terá que observar que; deverá informar-se sobre a existência ou não de estudos já realizados em torno do objeto escolhido. Caso alguma pesquisa já tenha sido feita, deverá ser imediatamente estudada e discutida, para não correr o risco de repetir o estudo do pesquisador anterior. Outra questão que deverá ser encaminhada é um estudo crítico do discurso popular e um estudo dos diferentes níveis de percepção da realidade. Na etapa final, deverá realizar a organização de um pré-programa, a ser elaborado a partir das análises da realidade da comunidade.

     Dramaturgos como Shakespeare tiveram origem puramente popular, assim como a representação de suas tragédias e comédias. Por outro lado, os filmes de Chaplin ou a música dos Beatles não teriam sido possíveis se não estivessem enraizadas no mundo do homem comum.

      A proposta principal da pesquisa participante está no seu deslocamento proposital das universidades direto para o campo de pesquisa, modificando assim, o próprio paradigma clássico, na medida em que reduz as diferenças entre objeto e sujeito de estudo. Ela faz com que o pesquisador faça um caminho inverso, indo de encontro ao que de mais simples e importante há nas pequenas comunidades. A pesquisa participante nos leva a uma troca direta de experiências e conhecimentos entre pesquisadores e pesquisados de uma dada comunidade. Em toda pesquisa participativa deverá haver uma troca mútua de conhecimentos dos problemas sócio econômico e culturais da comunidade que está sendo pesquisada.

 

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

ENTRE OS SÉCULOS XX e XXI

 

  

     Após a decisiva contribuição do MOBRAL e do SESC/AP, entre as décadas de 1970 e 1980, o movimento de teatro amador seguirá novos caminhos com a fundação da Federação Amapaense de Teatro Amador – FATA, no ano de 1980, que inicialmente teve sua sede no município de Santana. Seguindo o movimento organizado de teatro em nível nacional, a FATA, naquele momento, assumiu o movimento de vanguarda em relação à cultura, no Estado do Amapá. Esteve sob a Presidência de João Porfírio Freitas Cardoso, mais conhecido como Popó. Já em 1997, foi criada a Federação Amapaense de Teatro – FATE, com o objetivo de representar grupos e companhias do Amapá. Está situada na Rua Oscar Santos, 397, Bairro do Perpétuo Socorro, em Macapá, sob administração de Daniel Rocha da Silva e Tina Araújo. Isto implica dizer que até a chegada do século XXI, o movimento teatral amapaense, estava sob a égide dessas duas entidades.                       

      Todavia, devido ao constante desgaste político e artístico, dessas duas associações promotoras da arte, que aconteceu ao longo dos anos, fez surgir novos atores e novas organizações, que resultou em rupturas e quebra de paradigmas, visto que esta nova geração passou a ser o carro chefe das decisões artísticas, a partir do início do século XXI. Este foi o advento da nova geração que se insurgiu juntamente com o alvorecer do século XXI. Ela se rebelou em detrimento da metodologia antes realizada pelas antigas Federações. Vale ressaltar que muitos desses artistas, já participavam do movimento organizado das referidas Federações. 

     Posso observar aqui que, com a passagem de um século para outro, há no Amapá, dois grupos de produção cênica, distintos: o primeiro, refere-se ao século XX - grupos tradicionais, que ainda continuam em atividade, como: Grupo Teatral Língua de Trapo, dirigido por Disney Silva – década de 1970 – que surgiu a partir de oficinas de teatro do Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização. Este último vem apresentando seu espetáculo Bar Caboclo. Outro grupo desse período e que ainda continua a se apresentar é a Companhia Teatro de Arena, coordenador pelo diretor Amadeu Lobato – década de 1970 – que participou das oficinas do Mobral e do SESC/AP, mas surgiu na Igreja Católica e há 46 anos vem tradicionalmente apresentando seu espetáculo homônimo, “Uma Cruz Para Jesus”. O reconheço como grande Escola Informal de Iniciação Teatral do Amapá. Ainda faz parte desse grupo, a Companhia de Teatro Marco Zero, que tem coordenação de Daniel de Rocha e Tina Araújo – imigrantes oriundos da Bahia, que chegaram a Macapá e instalaram um movimento artístico, comunitário e social, além de edificarem seu próprio edifício teatral, (Teatro Marco Zero), no bairro Perpetuo Socorro, e que no ano de 1997, fundaram a FATE – Federação Amapaense de Teatro. Isto significa dizer que, até final do século XX, havia uma polarização sobre o que se fazia na área do teatro no Amapá. Em função disso, na primeira década do século XXI, oriundos dessas mesmas organizações, surgem novos líderes dissidentes, e em consequência, novos grupos e novas associações culturais. 

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

FINADOS

 


     Para todos os dias do ano, existe um dia para cada situação, e  hoje é o dia dos mortos, de Finados ou ainda, dos Fiéis Defuntos, portanto, é uma data celebrada em 2 de novembro, para homenagear, rezar e orar pelas pessoas falecidas. Data instituída pelo abade francês Odilo de Cluny. Portanto, é uma antiga celebração pagã, de mais de dois mil anos, quando já eram realizadas pelos Celtas. Vários povos apresentam maneiras diferentes de cultuar seus mortos. Enquanto em Roma os corpos eram cremados, no Egito eram embalsamados. Essa relação intrínseca entre o ser humano e a morte, é um reflexo da cultura em que se vivencia e se aprende seus dogmas e arquétipos.

     O halloween, conhecido no Brasil como Dia das Bruxas, é uma festa de origem Celta, praticada há mais de 3.000 anos, e que acontece no dia 31 de outubro, à qual é muito difundida nos Estados Unidos, nos dias de hoje. Em algumas tribos indígenas, quando um membro da aldeia morre, enquanto a família fica reclusa, é a aldeia quem vai realizar o culto ao falecido, com todas as honrarias necessárias. Após sete dias, cria-se um boneco e é nesse momento que a família se reúne em torno do boneco, como se fosse seu parente, para velar seu falecido e então, realizar o sepultamento do mesmo. Como pode-se observar, tudo depende da cultura em você está inserido.

     Na questão processional dos antigos enterros, principalmente quando de pessoas mais importantes da sociedade, havia uma banda de música que acompanhava o féretro, tocando músicas fúnebres.  Marcha fúnebre apresenta compasso quaternário ou binário, com andamento muito lento e pesado, imitando o ritmo de uma procissão, como a de um funeral.. Por outro lado, essas famílias mais abastadas pagavam a um grupo de mulheres para que elas ficassem todo o tempo chorando perto do ataúde, eram as famosas profissionais conhecidas como carpideiras. Também existia uma roupa específica para enterrar o defunto, conhecida por mortalha e geralmente essa roupa tinha a cor roxa ou preta.

     Até a proclamação da república, quem administrava o nascimento e os óbitos era a Igreja Católica, portanto, era muito comum que existissem cemitérios atrás das igrejas católicas até final do século XIX, como se pode observar em Santa Cruz de Cabrália, sul da Bahia, uma das primeiras igrejas do Brasil. A antiga Igreja de São José de Macapá, também possuía o seu cemitério, que se situava na região do formigueiro. Atualmente os cartórios que registram nascimento e óbito. Depois das igrejas, os cemitérios passaram aos cuidados das prefeituras municipais, sendo que nos dias de hoje, já existe uma infinidade de cemitérios de companhias ou grupos privados. Contudo, há várias formas de se despedir do ente querido: enterrar em cemitério de terra, em catacumbas de alvenaria como também há a possibilidade da cremação. Lembrando que os cemitérios não são visitados apenas no dia de finados, também há o costume da visitação no dia das mães e dia dos pais, respectivamente.