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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

A PESQUISA E O VALOR DO TEATRO AMAPAENSE

 


     Trago neste artigo, as palavras de Fernando Canto, na ocasião em que ele escreveu o prefácio do meu livro lançado em 2021, História do Teatro do Amapá: Do século XVIII à Década de 1940, ele prontamente aceitou escrever o prefácio, que inicia-se da seguinte forma: Professor Titular da Universidade Federal do Amapá – Unifap,  além de ser o mentor e de ter implantado o curso de Licenciatura Plena em Teatro na Instituição, Palhano foi um dos primeiros pesquisadores a escrever sobre o teatro amapaense. Suas pesquisas remontam de muitos anos, pois apesar do curso ser relativamente novo, o autor já vinha se dedicando a este ramo da arte e do conhecimento desde que iniciou como um dos pioneiros da Unifap, há quase trinta anos. Palhano publicou inúmeros livros, abarcando com maestria gêneros que variam entre a poesia e a crônica, entre histórias infantis e textos memoriais, pois seu espírito eclético lhe permite essa excursão indubitavelmente afortunada.

     Agora, neste livro, o autor devolve o resultado de uma pesquisa que será útil para todos aqueles que trabalham no campo histórico-estético-cultural e/ou da pesquisa teatral do Estado do Amapá. O “História do Teatro do Amapá” traz à tona uma série de acontecimentos até então desconhecidos para o segmento, pois aprofunda e discute fatos importantes para que o leitor tenha uma ideia das dificuldades encontradas pelos profissionais e amadores que vieram realizar suas atuações pioneirísticas desde as notícias do então Brasil Colônia do século XVIII até o cenário existente e em construção no extinto Território Federal do Amapá dos anos 40 do século passado, ainda em construção. Palhano revela aspectos do teatro de rua de Mazagão Velho, que é um esforço de escenificação popular da Festa de São Tiago, onde muçulmanos e cristãos travam lutas simbólicas em cavalhadas, para que os últimos demonstrem a hegemonia da Igreja sobre os “infiéis”, incorporando um papel guerreiro em várias cenas de batalhas sangrentas nas quais são os vencedores.

     Palhano rememora o tempo da própria Mazagão e suas pequenas óperas encenadas na igreja de Nossa senhora da Assunção, onde os padres (que nessa época já ensinavam música a seus acólitos de origem indígena) também montavam óperas de cunho moral e religioso como “Demofonte na Trácia” e “Dido Abandonada”, do italiano Metastasio, além de promoverem cortejos e peças em homenagem à Dona Maria I, que substituiu seu pai Dom José (e consequentemente o Marquês de Pombal) no reino de Portugal. Ele afirma que a “encenação das batalhas entre mouros e cristãos em espaço aberto, a Vila de Nova Mazagão (hoje Mazagão Velho) tornou-se o primeiro espaço teatral de arena do Amapá, ou seja, o primeiro teatro ao ar livre do Amapá. Depois disso continua indagando, especulando e provocando os pesquisadores históricos sobre diversas dúvidas de origem das festas.

     Mas é na década de 40 que as ações artísticas e teatrais se intensificam. Graças a visão administrativa do primeiro governador do então Território Federal do Amapá, criado em 1943 e instalado em 1944, foram criados vários aparatos urbanos na capital Macapá, entre eles o cineteatro amapaense, posteriormente conhecido como Cine Territorial. Nesse período o autor aborda aspectos interessantes sobre as companhias de teatro que vieram se apresentar na capital, bem como sobre o rol de artistas famosos que atuaram no palco de cineteatro. Não se pode omitir a relevância do auditório da Rádio Difusora de Macapá para a música e o teatro dessa época e ainda o papel dos escoteiros e, sobretudo o das mulheres no teatro amapaense, onde o autor mostra uma clara intenção de valorizá-las em sua importância.

 


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

TRUPIZUPE NO SESC

 


     No último dia 07 do mês em curso, aconteceu no Salão do SESC/Araxá, a apresentação do espetáculo Trupizupe, O Maior Quengo do Nordeste, sendo texto do paraibano Bráulio Tavares e direção de Edilson Alves, com elenco da Companhia Soluar, também da Paraíba. Para chegar ao Amapá, por um lado, esta companhia foi selecionada pelo Edital Arte na Bagagem de apoio à circulação artística, do Governo da Paraíba, a partir da Secretaria de Estado da Cultura, por outro, com a assistência do SESC/Araxá, instituição que promoveu a produção local, oferecendo o suporte necessário para que o grupo pudesse se estabelecer aqui no Amapá, responsabilidade que ficou sob a tutela do ilustre Professor e Educador Cultural, Genário Dunas.  

     O texto de Bráulio Tavares nos remete à estética da esperteza de tantos e quantos personagens que surgiram na Península Ibérica, os quais, possuem sempre as mesmas características, mas, dependendo de cada região, se apresentam sempre com cognomes diferentes. Trupizupe se encaixa nesse contexto, tendo em vista que é um personagem, cujas características se incluem: malandro, sedutor, de origem humilde, tolo, ingênuo, louco e sábio, são heróis populares que sempre estão cheios de artimanhas. Personagens que possuem em comum: a irreverência, a espontaneidade, a não submissão ao estabelecido, a comicidade, e por vezes, a crueldade. Os ancestrais de Trupizupe são encontrados em Pedro Malasartes, e ainda no personagem Nasrudin, famoso nas histórias árabes.

     A concepção cênica de Edilson Alves, transformou o espetáculo numa osmose do drama, da música e da tragédia, respectivamente, com a insistência de navegar tanto em águas calmas quanto em maremotos, levando-se em consideração que, inicialmente a mise en scène tenha sido elaborada com perspectiva para ser apresentada em locais abertos, como as ruas, mas, que se adaptou definitivamente na caixa cênica do palco à italiana. A sonoplastia ao vivo, que tem por base um acordeom, envolvendo músicos e atores como um coro em uníssono, dá motivo musical à montagem, e nos remete à participação efetiva, do coro, como personagem, na tragédia grega, principalmente em Ésquilo.  

     Em vários contos escritos pelos irmãos Grimm há muitas histórias de rapazes humildes, geralmente camponeses que sabem tirar proveito de qualquer situação. Esses personagens centenários continuam se multiplicando pelo mundo afora, e aqui no Brasil tem um que ficou muito famoso, que é o João Grilo de O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Trupizupe, como tantos outros, são nossos personagens anti-heróis, repletos de falhas de caráter, preguiçosos, malandros e espertos, e sempre são os protagonistas das histórias, mas que agem com astúcia, criatividade e irreverência. O enredo enfoca as astúcias de Trupizupe, que ao chegar em um reino, encontra um vice-rei corrupto, cria várias situações com malícia, sutileza e talento, até conseguir seu objetivo maior que é o de se casar com a princesa. Trupizupe o Maior Quengo do Nordeste é um espetáculo que eu recomendo.

domingo, 10 de novembro de 2024

TEATRO E PESQUISA CIENTÍFICA

 


     Na última sexta-feira, 18 de outubro, aconteceu um evento no Aeroporto Internacional de Macapá, relacionado à pesquisa científica, intitulado: Prêmio Destaque e Iniciação Científica e Tecnológica, da Universidade Federal do Amapá. Na ocasião, foi entregue prêmios a vários acadêmicos das mais diversificadas áreas do conhecimento científico. Por sua vez, o Curso de Licenciatura em Teatro, também vem conquistando seu espaço, visto que acadêmicas do curso também foram contempladas.

     Ressalto, que como pioneiro, as primeiras pesquisas relacionadas ao teatro do Amapá, tiveram início no ano de 1995, com minha chegada à Universidade Federal do Amapá. No entanto, vale salientar que a partir da implantação do Curso de Licenciatura em Teatro da UNIFAP, ao longo desses últimos dez anos do curso, essas pesquisas ligadas às artes cênicas, se ampliaram consideravelmente, sendo que as mesmas, vêm sendo realizadas em trabalhos de iniciação científica, a partir de publicação de artigos, defesas de Trabalhos de Conclusão de Curso, como também em Mestrados e Doutorados, como foi o caso do Professor Dr. Bruno Sérvulo, pertencente aos quadros do Instituto Federal do Amapá - IFAP, e ainda, o Professor Dr. Fred Carvalho, atual Coordenador do Curso de Teatro da UNIFAP.

     E foi em função do trabalho de professores orientadores e acadêmicos orientandos de iniciação científica que no ano de 2021, o acadêmico do Curso de Teatro, Kai Henrique Silva Fernandes, o qual foi orientado pelo Professor Dr. José Flávio Gonçalves da Fonseca, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Destaque de Iniciação Científica 2021, com a apresentação do trabalho “Experimentando Dramaturgias Digitais”, o qual, foi selecionado pela banca examinadora da área da Educação, Linguística, Letras e Artes do X Congresso Amapaense de Iniciação Científica - CONAIC, realizado no período de 05 a 08 de outubro daquele ano.

     Já neste ano de 2024 mais duas acadêmicas do Curso de Teatro da UNIFAP, também galgaram o primeiro e o terceiro lugares, no XIII Congresso Amapaense de Iniciação Científica do Amapá. A cerimônia de entrega dos prêmios aconteceu no dia 18 de outubro no Aeroporto Internacional de Macapá, realizado dentro da programação da 21º Semana Nacional de Ciência e Tecnologia do Amapá. Neste caso, duas acadêmicas do Curso de Teatro da UNIFAP, foram selecionadas e receberam o prêmio da área da Educação, Linguística, Letras e Artes.

     Tendo como orientador o Professor Dr. Emerson de Paula, a acadêmica e orientanda de iniciação científica, Sofia Correa de Abreu, galgou o primeiro lugar no certame, com a pesquisa intitulada: Estudos em Teatros Negros no Amapá: jogos Afrocentrados, Cena e Dramaturgia Negra. Por outro lado, a Professora Dra. Adélia da Silva Carvalho foi a orientadora de iniciação científica da discente, Iara dos Santos Piris, à qual conquistou o terceiro lugar nesse mesmo evento, com a pesquisa intitulada: Teatro Negro na Educação Básica. As duas acadêmicas foram selecionadas pelas bancas examinadoras da área da Educação, Linguística, Letras e Artes do XIII Congresso Amapaense de Iniciação Científica. Frente a esses fatos, é proeminente que as pesquisas na área do teatro e sobre o teatro do Amapá tem se intensificado nesses últimos 10 anos em função da Implantação do Curso de Teatro da UNIFAP.

domingo, 3 de novembro de 2024

ODE A FERNANDO CANTO

 

ODE A FERNANDO CANTO

                                                                                                                                       

     Conheci o professor Fernando Canto lá pelos idos anos de 1994, do século XX, quando eu assumi uma cadeira de professor no Núcleo Pedagógico Integrado da Universidade Federal do Pará. Nosso primeiro contato foi exatamente a partir da cultura, visto que eu havia dirigido com alunos do NPI/UFPA, o espetáculo de revista, Para Esse Barco não Pará, e fizemos uma temporada na Praça Presidente Vargas, no Núcleo de Cultura da UFPA, instalado naquele famoso jardim. Foi nesse encantador espaço que tive minhas primeiras impressões em relação ao escritor Fernando Canto. Como conhecedor, desbravador e eclético, ele exercia no mínimo duas funções naquela casa de ensino, por um lado, técnico, e por outro, professor da disciplina de sociologia.

     Ainda em 1994, resolvi me submeter a concurso para a Universidade Federal do Amapá. Com resultado positivo, e perante a necessidade de concluir meus diários, no finalzinho do ano, tive que solicitar exoneração da UFPA. Já no dia 2 de janeiro de 1995 tomei posse na UNIFAP, minha casa preferida, à qual, permaneço até os dias atuais. E foi neste mesmo ano que certo dia, encontrei Fernando Canto, já como servidor da UNIFAP. Na ocasião, lhe perguntei: - Ué! Mas...! Você é irmão daquele rapaz que trabalha na UFPA?  Ele me respondeu: - Sou eu mesmo, agora estou aqui como funcionário da UNIFAP. Fiquei espantado por tê-lo visto por aqui, e podermos então, compartilhar a partir daquele momento, numa instituição, à qual, passaríamos longos anos.

     Com o passar dessas três décadas venho acompanhando toda a dedicação laboriosa do músico Fernando, para com nossa UNIFAP e para com o Estado do Amapá. Estivemos, pari passu, compartilhando os mesmos sentimentos em relação à nossa querida UNIFAP. Naquela época, nossa universidade era embrionária e continha apenas nove cursos de graduação, com espaços físicos que eram mínimos, mas por outro lado, como ressalva muito bem, o Fernando professor com olhar de poeta: - em suas paredes e seus pavilhões outrora cintilantes, decorados pelo material escuro tanto tempo cobiçado... referindo-se às paredes que eram revestidas de pedras de manganês, e que que representavam a grande riqueza econômica do Amapá.  Era uma época, na qual, docentes e técnicos se irmanavam com orgulho, fixando um olhar no futuro, com o grande objetivo de um dia entregarmos para as próximas gerações, uma grande universidade, como a conhecemos na atualidade. 

     E é nessa hora, neste ano de 2024, quando nosso tão propalado Fernando Canto, doutor, poeta, professor, cronista, músico, escritor, compositor, instrumentista, presidente da Academia Amapaense de Letras e, grande divulgador da cultura amapaense, se despediu deste plano na última terça-feira, dia 29. Reconheço plenamente, que sua missão foi cumprida, em particular, em nossa instituição de ensino superior, e em geral, no Estado do Amapá como um todo. Não só isso...!! Este ciclo glorioso, ele fechou com chave de ouro, com a publicação, no ano passado, do seu livro intitulado: Universidade Equatorial: uma aventura acadêmica, e que acrescenta humildemente no seu subtítulo, como: uma prestação de contas poética do Servidor Público Federal. Aproveito aqui, e tiro o chapéu para o amigo Fernando, e é por isso que eu sempre digo: Fernando está aqui, ali e acolá...! Salve FERNANDO, que continuará em todo CANTO, desse vasto Amapá.