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segunda-feira, 18 de novembro de 2024

TRUPIZUPE NO SESC

 


     No último dia 07 do mês em curso, aconteceu no Salão do SESC/Araxá, a apresentação do espetáculo Trupizupe, O Maior Quengo do Nordeste, sendo texto do paraibano Bráulio Tavares e direção de Edilson Alves, com elenco da Companhia Soluar, também da Paraíba. Para chegar ao Amapá, por um lado, esta companhia foi selecionada pelo Edital Arte na Bagagem de apoio à circulação artística, do Governo da Paraíba, a partir da Secretaria de Estado da Cultura, por outro, com a assistência do SESC/Araxá, instituição que promoveu a produção local, oferecendo o suporte necessário para que o grupo pudesse se estabelecer aqui no Amapá, responsabilidade que ficou sob a tutela do ilustre Professor e Educador Cultural, Genário Dunas.  

     O texto de Bráulio Tavares nos remete à estética da esperteza de tantos e quantos personagens que surgiram na Península Ibérica, os quais, possuem sempre as mesmas características, mas, dependendo de cada região, se apresentam sempre com cognomes diferentes. Trupizupe se encaixa nesse contexto, tendo em vista que é um personagem, cujas características se incluem: malandro, sedutor, de origem humilde, tolo, ingênuo, louco e sábio, são heróis populares que sempre estão cheios de artimanhas. Personagens que possuem em comum: a irreverência, a espontaneidade, a não submissão ao estabelecido, a comicidade, e por vezes, a crueldade. Os ancestrais de Trupizupe são encontrados em Pedro Malasartes, e ainda no personagem Nasrudin, famoso nas histórias árabes.

     A concepção cênica de Edilson Alves, transformou o espetáculo numa osmose do drama, da música e da tragédia, respectivamente, com a insistência de navegar tanto em águas calmas quanto em maremotos, levando-se em consideração que, inicialmente a mise en scène tenha sido elaborada com perspectiva para ser apresentada em locais abertos, como as ruas, mas, que se adaptou definitivamente na caixa cênica do palco à italiana. A sonoplastia ao vivo, que tem por base um acordeom, envolvendo músicos e atores como um coro em uníssono, dá motivo musical à montagem, e nos remete à participação efetiva, do coro, como personagem, na tragédia grega, principalmente em Ésquilo.  

     Em vários contos escritos pelos irmãos Grimm há muitas histórias de rapazes humildes, geralmente camponeses que sabem tirar proveito de qualquer situação. Esses personagens centenários continuam se multiplicando pelo mundo afora, e aqui no Brasil tem um que ficou muito famoso, que é o João Grilo de O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Trupizupe, como tantos outros, são nossos personagens anti-heróis, repletos de falhas de caráter, preguiçosos, malandros e espertos, e sempre são os protagonistas das histórias, mas que agem com astúcia, criatividade e irreverência. O enredo enfoca as astúcias de Trupizupe, que ao chegar em um reino, encontra um vice-rei corrupto, cria várias situações com malícia, sutileza e talento, até conseguir seu objetivo maior que é o de se casar com a princesa. Trupizupe o Maior Quengo do Nordeste é um espetáculo que eu recomendo.

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