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domingo, 25 de agosto de 2024

TEATRO MUNICIPAL DE SANTANA

 

 

     No último dia 16 do mês em curso, juntamente com acadêmicos do Curso de Licenciatura em Teatro da UNIFAP, em função de programação das disciplinas Artes Cênicas no Amapá e, Fundamentos da Pesquisa em Artes, às quais estão sob minha coordenação, realizamos uma visita pedagógica e técnica ao Teatro Sílvio Romero, da vizinha cidade de Santana. Não foi à toa que a mineradora ICOMI, colocou o nome de Santa Ana, naquele município. Diga-se de passagem, Santana é a padroeira dos mineradores. Nessa empreitada, participaram as três turmas do turno da manhã, e os professores: Dr. Flávio Nosé, Especialista Sandro Brito, e este colunista que vos escreve.   

     As primeiras notícias que obtive da probabilidade de construção de um edifício teatral em Santana, remonta ao ano de 2009, ou seja, há exatamente 15 anos. Quando, eu era o único Doutor em Teatro do Estado do Amapá. Naquela ocasião, fui convidado pelo professor e arquiteto Oscarito Antunes do Nascimento, o qual pertencia ao colegiado do Curso de Artes Visuais, do qual, eu também fazia parte. Ocorre, que naquelas circunstâncias, o professor Oscarito era o arquiteto que estava à frente do desenho arquitetônico do futuro edifício teatral daquela cidade. Tivemos várias reuniões para tratar do referido assunto, ele, com o conhecimento da arquitetura, e eu, como Doutor em Teatro.

     Frente a todo esse trabalho, sugeri à Oscarito, que além do grande salão nobre de 500 lugares, seria de fundamental importância que no mesmo prédio fosse erguido um pequeno salão com no máximo 100 lugares na plateia, no sentido de oportunizar espetáculos e apresentações de pequeno porte, tendo como ponto de partida, a manutenção e o baixo custo para o pleno funcionamento daquele espaço teatral. Ao ter visitado o Teatro Sílvio Romero, fiquei feliz e surpreso, principalmente, porque, apesar de passados 15 anos, desde a criação do desenho arquitetônico e da possível mudança de vários arquitetos durante esse período até a concretização de sua inauguração, ter se configurado e concretizado este pequeno espaço teatral que se encontra anexo ao imenso edifício daquele agradável teatro.

     Desde muito tempo, a cidade de Santana necessitava de um espaço teatral, e porque não dizer de um centro cultural, tendo em vista que, o mesmo possui uma área de 2.193,62 m², com o palco que cobre uma área de 180,37 m², excelentes dimensões para atender à produção local e de alhures. Possui ainda, bilheteria, camarins masculino e feminino, videoteca, dois depósitos para cenários, sala de convenções, sala destinadas à oficina de teatro, salas destinadas à prática musical, sala de dança, uma sala de leitura, e salas de apoio administrativo, coordenação, secretaria e copa.

     A prefeitura Municipal de Santana, está de parabéns pela concretização do referido edifício teatral e ainda mais, por ter acertado peremptoriamente na denominação daquele prédio, que traz em seu frontispício o epíteto de Teatro Sílvio Romero, artista de primeira, produtor cultural e professor daquele município, o qual, faleceu no ano de 2011, em função de um acidente de moto. Sílvio Romero, semper vivere.

domingo, 18 de agosto de 2024

DO RITUAL AO DRAMA

 


     Todas a tentativas de definição do teatro, convergem para um ponto comum onde são eliminadas as dificuldades encontradas em sua gênese e natureza: acredito que o teatro é um culto, ou seja, é a comunhão entre um público com um espetáculo vivo e presencial. Quase unânime também é a admissão de sua origem dentro dos rituais religiosos em homenagem ao deus Dioniso. Deus da uva, do vinho e da fertilidade.

     Cumpre aqui, entendermos religião em sentido lato. Não há dúvidas de que é religiosa a origem do teatro, como também o é a maior parte das expressões vitais dos grupos sociais. O que se diz como conto (a história) pode ser o mito, a forma de contar (o espetáculo) pode ser o último traço de um rito.

     Se o ritual é predominantemente religioso do ponto de vista de sua imagem histórica, é também, quanto tal e como cerimônia, o mais eficaz portador de mensagens sociais e políticas. Daí ver-se a prosa e a poesia em meios literários, mudar-se de grau em grau, como em certos casos encontrados no Norte do Brasil, em forma de representação, para isso, apoiando-se em estruturas paracerimoniais, como por exemplo, o boi de Parintins, no Amazonas, ou o boi Pavulagem, em Belém do Pará.

     Sendo tudo isso passível de uma necessidade subjacente em camadas do povo a transmitir às demais, aquilo que está intrinsecamente ligado à sua origem vital. Essas expressões são contaminadas de momentos vitais do próprio cotidiano. Ressalte-se que a atividade dramática do boi, documentalmente se desenvolveu de um modo teatral rudimentar, recoberto por uma daquelas quase-cerimônias até atingir a densidade contemporânea que apresenta na atualidade.

     A aceitação do nascimento do teatro nos rituais e cerimônias não cerceia o caminho a outras deduções que possam ser extraídas do seu processo de aparecimento; há uma forma que se constrói e há os seus reflexos no campo da psicologia coletiva, da psicologia individual e na gestação de uma modalidade da arte. O instinto da imitação está idiossincraticamente ligado ao desenvolvimento do homem, como também está estritamente fundado nos primeiros momentos do teatro. É aí onde na verdade, iremos encontrar seus principais fundamentos na individualidade humana.

     Os aspectos de relação do teatro, assim compreendido o ato de comunicação entre quem representa e quem assiste, é esse comércio de emoção e inteligência, não um movimento psicológico que a si mesmo inicie e em si mesmo termine.

     Tudo o que se pensa do teatro, reconduz àquela peculiaridade inicial: é por certo a forma de arte que maior compromisso assume com o grupo humano em que está inserido, seja na sua organização menos densa, seja no complexo das civilizações, onde segue incombatível a sua condição de porta voz, de transmissor de mensagens e sinais, desde os primórdios até a atualidade.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

PAI HERÓI

 

 

     Meu pai era ferroviário e exercia a função de serralheiro, o que, na época, era o mesmo que mecânico. Desenvolvia suas atividades profissionais na oficina de trens de Itabaiana, pequena cidade do interior da Paraíba. Quando o trem chegava de outro destino ou quando iria prosseguir viagem, tinha que passar pela oficina para uma revisão geral. Nesse seu trabalho, aprendeu a pilotar tanto a máquina a vapor, antiga Maria Fumaça, ou máquina preta, como também a máquina à diesel, ou máquina vermelha, como ele próprio chamava.

     A base inicial da ferrovia foi a máquina à vapor. Vários apetrechos eram necessários para fazer aquelas máquinas funcionarem: terra, fogo, água, ar, madeira, maquinista e foguista. Havia grandes armazéns abarrotados daquela areia branca e fininha que se usa em construção civil. Em caso de necessidade, como por exemplo, numa subida, aquela areia era usada para criar o atrito das rodas com os trilhos

      A madeira gerava o fogo necessário para ferver a água da caldeira e fazer a máquina funcionar. O papel do foguista era manter a temperatura ideal do fogo na fornalha para fazer a água entrar em estado de ebulição e criar o vapor suficiente para fazer a máquina andar e apitar, entre outras coisas. O maquinista era aquele profissional que pilotava a máquina. A tecnologia da máquina a vapor exigia que nas estações se construíssem imensas caixas d’água.

     Meu pai foi o meu primeiro mestre, certa vez lhe fiz esta pergunta: - Pai, como o senhor consegue consertar uma máquina tão grande? Ele me respondeu: - Meu filho, a máquina é muito grande, mas é feita de coisas pequenas como parafusos, arruelas. entre outras coisas pequeninas. Por exemplo, a máquina preta possui um recipiente na frente das rodas dianteiras, cheio de areia, ela tem um dispositivo que quando o maquinista puxa, a areia cai sobre os trilhos fazendo com que a máquina tenha mais aderência das rodas com os trilhos para não derrapar numa subida. Isso é apenas uma parte da máquina, algo pequeno, mas que é parte de um todo. Fiquei encantado com a resposta que ele me deu e passei a discernir melhor a parte do todo; passei a perceber melhor o sentido da vida.

     Quando surgiu a máquina à óleo diesel ainda na década de 1970, todo aquele aparato básico para manter a máquina a vapor foi ficando obsoleto. A máquina à diesel só precisava de um combustível, óleo diesel, e claro, a manutenção cotidiana. Várias e várias vezes eu entrava dentro dessas máquinas com meu pai. O que mais me impressionava é que elas possuíam um virabrequim maior do que um homem.  Além do trabalho, os ferroviários apreciavam muito a bebida e o tabaco.  Meu pai não bebia, mas gostava muito de um rapé. Ele passou a usar o rapé em função do seu próprio trabalho. Ele estranhava e não se sentia bem ao entrar numa máquina com a temperatura extremamente alta, e sair em seguida, para enfrentar uma temperatura externa muito mais fria. Fato que aconteceu no início de sua carreira na Rede Ferroviária. Em função disso foi se informar com um colega veterano: o mesmo, informou a meu pai que um bom remédio seria cheirar rapé. Assim, enfrentaria com mais tranquilidade o choque térmico. A partir daí meu pai começou a cheirar rapé que era feito a partir do Tabaco. As histórias do meu pai, em muito me encantavam e me ensinavam. Suas histórias e suas lembranças, não se destroem com o tempo, portanto, para mim, meu pai é meu eterno herói.  

 

            

 

 

 

                       

 

 

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

AÇAIDÉIA

 


     O título deste artigo tem o nome de um espetáculo da Companhia de Teatro Marco Zero. É uma peça teatral que traz uma bela mensagem de muita importância relacionada com a proteção da natureza.  A peça em si, é um grito em favor do meio ambiente. Traz à cena discussões como: queimadas e incêndios, pesca predatória, caça e venda ilegal de animais silvestres. O Grupo Marco Zero tem uma filosofia, de não apenas fazer teatro, mas, saber utilizar esse fazer teatral para o bem da comunidade do Bairro Perpétuo Socorro como também das várias comunidades e esquinas por onde se apresentam.

     A Companhia Marco Zero apresentou o espetáculo Açaidéia, no último dia 20 de julho na parte interna do Bioparque Municipal, dentro da programação do Macapá Verão, com apoio da Prefeitura Municipal de Macapá. Foi uma boa oportunidade para o público que esteve presente naquele momento, visitando aquele local deveras aconchegante.

     Foi na cidade de Macapá que Tina Araújo e Daniel de Rocha, concretizaram seus sonhos artísticos e profissionais. Juntamente com Daniel, ela é fundadora do Grupo Teatral Marco Zero e já montou mais de trinta espetáculos todos voltados para questões sociais. Alguns projetos concretizados pelo Grupo Marco Zero foram: “Projeto Teatro Vidama”; “Projeto Teatro e Vida”; “Teatro, Escola e Comunidade”; “Projeto Teatro Açaidéia”. Uma das peças mais importantes foi Virgem do Ninho Real, quando Tina representou uma Rainha. Em Açaidéia, ela faz vários personagens como o mato e a rainha do mato. Outras montagens do Grupo Marco Zero são: A Saúde Pública e Auto da Camisinha.

     A partir de suas pesquisas artísticas o grupo resolveu se voltar para temas que estivesse mais perto da população, e começaram a criar textos e montar espetáculos voltados para questões sociais. Principalmente doenças transmissíveis como AIDS; pandemia do Covid 19, por exemplo, esses são temas que fazem parte do rol que o grupo vem trabalhando e utilizando ultimamente em suas montagens. Nessa linha de trabalho, já encenou vários espetáculos e participou de festivais. O trabalho de Daniel de Rocha e Tina Araújo, busca   realizar um teatro de cunho social, com o objetivo de discutir uma melhor qualidade de vida para o ser humano.

     Geralmente o grupo Marco Zero, promove eventos, peças, musicais, oficinas, entre outras atividades, que envolve grande parte das crianças e pessoas da comunidade do Bairro Perpétuo Socorro. Em função dessa luta, persistência e resiliência, transformaram sua moradia num pequeno teatro, que se revela como o ponto culminante de suas ações e realizações artísticas. É um projeto que, a partir da arte, busca revelar os problemas sociais e mostrar as dificuldades enfrentadas pela população carente daquele bairro.  

     O espetáculo Açaidéia, da Companhia Teatral Marco Zero, apresenta-se com texto de Daniel de Rocha e Direção de Tina Araújo, e tem o seguinte elenco: Ana Beatriz, Ana Isabela, Cleide Maria, Célio Zagalo, Raissa Dias, Olavo Rodrigues Kelly Távora, Aylla Shofian, Marcos Vinícius, Paula Shofia, trilha sonora de João Vitor e apoio técnico de Dugham de Rocha.