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domingo, 18 de agosto de 2024

DO RITUAL AO DRAMA

 


     Todas a tentativas de definição do teatro, convergem para um ponto comum onde são eliminadas as dificuldades encontradas em sua gênese e natureza: acredito que o teatro é um culto, ou seja, é a comunhão entre um público com um espetáculo vivo e presencial. Quase unânime também é a admissão de sua origem dentro dos rituais religiosos em homenagem ao deus Dioniso. Deus da uva, do vinho e da fertilidade.

     Cumpre aqui, entendermos religião em sentido lato. Não há dúvidas de que é religiosa a origem do teatro, como também o é a maior parte das expressões vitais dos grupos sociais. O que se diz como conto (a história) pode ser o mito, a forma de contar (o espetáculo) pode ser o último traço de um rito.

     Se o ritual é predominantemente religioso do ponto de vista de sua imagem histórica, é também, quanto tal e como cerimônia, o mais eficaz portador de mensagens sociais e políticas. Daí ver-se a prosa e a poesia em meios literários, mudar-se de grau em grau, como em certos casos encontrados no Norte do Brasil, em forma de representação, para isso, apoiando-se em estruturas paracerimoniais, como por exemplo, o boi de Parintins, no Amazonas, ou o boi Pavulagem, em Belém do Pará.

     Sendo tudo isso passível de uma necessidade subjacente em camadas do povo a transmitir às demais, aquilo que está intrinsecamente ligado à sua origem vital. Essas expressões são contaminadas de momentos vitais do próprio cotidiano. Ressalte-se que a atividade dramática do boi, documentalmente se desenvolveu de um modo teatral rudimentar, recoberto por uma daquelas quase-cerimônias até atingir a densidade contemporânea que apresenta na atualidade.

     A aceitação do nascimento do teatro nos rituais e cerimônias não cerceia o caminho a outras deduções que possam ser extraídas do seu processo de aparecimento; há uma forma que se constrói e há os seus reflexos no campo da psicologia coletiva, da psicologia individual e na gestação de uma modalidade da arte. O instinto da imitação está idiossincraticamente ligado ao desenvolvimento do homem, como também está estritamente fundado nos primeiros momentos do teatro. É aí onde na verdade, iremos encontrar seus principais fundamentos na individualidade humana.

     Os aspectos de relação do teatro, assim compreendido o ato de comunicação entre quem representa e quem assiste, é esse comércio de emoção e inteligência, não um movimento psicológico que a si mesmo inicie e em si mesmo termine.

     Tudo o que se pensa do teatro, reconduz àquela peculiaridade inicial: é por certo a forma de arte que maior compromisso assume com o grupo humano em que está inserido, seja na sua organização menos densa, seja no complexo das civilizações, onde segue incombatível a sua condição de porta voz, de transmissor de mensagens e sinais, desde os primórdios até a atualidade.

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