Durante a
década de 1970, trabalhar numa farmácia era o grande sonho de muitos garotos e
garotas adolescentes do interior da Paraíba. Esse era o principal desejo de
muitos jovens da minha época. E eu era um deles. Tempo em que as farmácias
proliferavam, suplantando inclusive as movelarias da cidade. Minha sexta experiencia no mercado de
trabalho se deu com quatorze anos de idade, em Itabaiana, cidade do interior da
Paraíba, período em que estava cursando a quarta série ginasial. no antigo
Colégio Estadual de Itabaiana, no ano de 1976.
Naquela
época, qual foi a grande questão de um adolescente entrar para o mercado de
trabalho? Por um lado, a necessidade de ajudar economicamente minha família, e
por outro, com o objetivo de me sentir gente grande... de estar presente nos
eventos sociais e principalmente nas festividades e nos famosos bailes, porque
era nesses locais que tínhamos a probabilidade de encontrar a mais bonita das
garotas. Na verdade, não havia nenhum problema jurídico em impedir o trabalho
infantil. A ideia era educar a criança para o trabalho; esse era o objetivo da
sociedade da época. Nem se sonhava com o Estatuto da Criança e do Adolescente,
que foi instituído no ano de 1990.
Minha primeira experiência na farmácia “São
João”, dos proprietários: João Bernardes e Maria Helena, se deu especificamente
nos dias de terça-feira. Era o dia mais movimentado da semana, particularmente,
em função da famosa feira de Itabaiana. Momento em que todos os municípios
circunvizinhos vinham participar, de uma forma ou de outra, da referida feira.
Isso sem contar o povo que vinha da infinidade de sítios dos arredores. A
cidade se via completamente radiante com a quantidade de automóveis como:
caminhões feirantes, rurais, Jeeps, kombis e fuscas e, de todo tipo de carro
que pudesse servir de transporte para as pessoas da região, todos abarrotados de
gente do interior que vinha fazer transações comerciais naquele imenso mercado
ao ar livre.
Já às
sete horas da manhã tínhamos que estar de prontidão para atender os clientes
que vinham da redondeza. Proprietários de pequenas farmácias do interior, donos
de mercadinhos e bodegas que havia mais de mil espalhadas pelos sítios e
povoados das imediações. Bom mesmo era na hora do lanche, quando Maria Helena,
a esposa do dono da farmácia, comprava pão e refrigerante na Padaria Pacheco,
que havia do outro lado da rua, defronte à farmácia. Era um gostoso pão
quentinho com manteiga e um copo do refrigerante Grapette; humm! Uma
delícia...!. Era como se fosse um presente, até achava que eu ficava mais forte
para prosseguir a jornada até às 13 horas, quando completaria as 6 horas
corridas de trabalho na farmácia.
Na feira de Itabaiana, no período que ninguém
sabia o que era garrafa de água mineral descartável, havia muitos garotos e
garotas que vendiam água numa quartinha de barro, para aqueles que estivessem
sedentos durante sua estada na feira. E uma questão interessante é que certo
dia João Bernardes me chamou, me deu a chave de uma porta, e disse-me em
seguida: - Palhano, vai ali na cisterna com essa garota e coloca água na
quartinha dela. Sinceramente, diante de tal situação eu fiquei meio sem saber o
que fazer, mas fui caminho adentro lá nos confins da farmácia, abri a porta,
levantei uma tampa que havia, peguei um pequeno balde de flandres, puxei o
balde d’água e enchi a quartinha da menina, e ela pagava por essa água. No
final passei a entender que todo comerciante é semelhante ao tio patinhas,
antigo personagem de Walt Disney, muito divulgado nas histórias em quadrinhos,
revista que havia na década de 1970, e que a maioria dos adolescentes, como eu,
tinha acesso.
O texto desperta em mim uma sensação de nostalgia e uma visão interessante sobre a realidade de trabalhar em uma farmácia no interior durante os anos 1970. É fascinante observar como os sonhos e desejos dos jovens daquela época eram diferentes dos de hoje em dia. Trabalhar em uma farmácia era considerado um grande objetivo e uma forma de se sentir adulto e participar das atividades sociais.
ResponderExcluirA descrição da agitação da feira de Itabaiana, com a chegada de pessoas de diferentes lugares e a diversidade de veículos utilizados para o transporte, me faz imaginar a efervescência e a animação que deviam tomar conta da cidade nessas ocasiões. É interessante notar como a feira era um ponto de encontro e de negócios para os moradores da região, impulsionando o comércio local.
A menção ao momento do lanche, com o pão quentinho e o refrigerante Grapette, retrata um intervalo prazeroso no meio do trabalho árduo. Esses pequenos momentos de satisfação e energia renovada são importantes para seguir em frente e enfrentar as longas jornadas de trabalho.
A situação em que o autor é encarregado de abastecer a quartinha de barro de uma garota que vendia água durante a feira levanta questões sobre o papel dos comerciantes e a busca pelo lucro. A comparação com o Tio Patinhas, conhecido por sua avareza nas histórias em quadrinhos da Disney, sugere que os comerciantes da época também estavam em busca de oportunidades para prosperar.
No geral, o texto me transporta para uma época passada e me faz refletir sobre como as aspirações profissionais e as realidades do trabalho podem mudar ao longo do tempo. É uma bela descrição da vida no interior e das experiências de trabalho do autor na farmácia, com detalhes que tornam a narrativa viva e envolvente.