A primeira vez que, conheci, participei e
acompanhei a procissão do Círio de Nazaré, foi na cidade de Belém do Pará, no
ano de 1994. Na ocasião, eu era professor do Núcleo Pedagógico Integrado da
Universidade Federal do Pará. Foi uma sensação muito diferente ver aquela multidão
agradecer em nome da Virgem de Nazaré. Até hoje não esqueci aqueles momentos
que muito me impressionaram.
A palavra círio vem do latim cereu, de
cera. Significa vela grande de cera, como também, festa em homenagem a algum
santo, no caso, a virgem de Nazaré. Quando se fala em Círio de Nazaré, pensamos
logo numa grande procissão, o que também está correto. É a manifestação de
cunho religioso que mais aglomera pessoas no Brasil.
É uma tradição mais que centenária, que
acontece todos os anos, no segundo domingo de outubro, em várias cidades,
vilarejos, lugarejos e comunidades distantes, no Norte do Brasil. Sendo que o
mais conhecido turisticamente é o círio que acontece na cidade de Belém do Pará.
É um cerimonial onde os católicos vão agradecer e honrar Nossa Senhora de
Nazaré.
Muitas comunidades primitivas também
realizavam procissões em honra aos seus deuses. Na antiga Grécia, aconteciam em
honra ao deus Dionísio. Eram procissões que ao som da música de flautas, as
bacantes dançavam em honra ao Deus Dionísio, juntando-se aos Sátiros, também
dançarinos, que vestidos a caráter imitavam bodes, cujos animais, para a
cultura grega da época significavam os companheiros do Deus.
Essas procissões tinham caráter comum,
onde todos os celebrantes se juntavam tendo à frente jovens que cantavam um
hino improvisado, chamado “ditirambo”, e assim giravam em torno do altar do
Deus, agradecendo pela colheita da uva e pelo sexo que significava a fertilidade
da vida. E foi exatamente desse coro, do contraste entre o espírito Dionisíaco
e Apolíneo que nasceram a Tragédia e a Comédia.
Em seguida o coro separou-se do recitador,
nesse momento crucial da história do teatro havia nascido o primeiro ator.
Contudo, na procissão já se podia constatar três artes: o canto, a dança e a
atuação. Nesse caso, à frente vinha o “Corifeu” – de onde surge a palavra Coro
– vestido com pele de bode. Consequentemente todo o resto do grupo respondia ao
ditirambo, atuando como um verdadeiro balé litúrgico, numa fusão do trágico e
do cômico. Essa narrativa cantada era sempre feita em terceira pessoa. Em 534
a.C. Théspis, um corifeu que participava da festa, representou pela primeira
vez Dionísio, transformando essa narrativa em primeira pessoa e dando origem à plateia.
Poderíamos fazer aqui, uma relação como o
Círio de Nazaré, quando todos os anos, numa determinada época, o povo se reúne
para louvar a sua Santa (Deusa) Virgem de Nazaré. Neste caso, com
características próprias de uma cultura contemporânea do século XXI. É
interessante saber que apesar da distância cronológica, momentos semelhantes
existem entre essas duas manifestações religiosas, como por exemplo, o vigário
assumindo o lugar do Corifeu, que quando fala uma estrofe de uma oração que, automaticamente
o povo responde, representando nessa ocasião, o coro. E assim a cultura segue
seu rumo. Viva o Círio de Nazaré. Viva o Círio de Macapá.
Professor Palhano saudades. Ótimo professor.
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