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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

E VIVA O CÍRIO DE NAZARÉ



     A primeira vez que, conheci, participei e acompanhei a procissão do Círio de Nazaré, foi na cidade de Belém do Pará, no ano de 1994. Na ocasião, eu era professor do Núcleo Pedagógico Integrado da Universidade Federal do Pará. Foi uma sensação muito diferente ver aquela multidão agradecer em nome da Virgem de Nazaré. Até hoje não esqueci aqueles momentos que muito me impressionaram.
     A palavra círio vem do latim cereu, de cera. Significa vela grande de cera, como também, festa em homenagem a algum santo, no caso, a virgem de Nazaré. Quando se fala em Círio de Nazaré, pensamos logo numa grande procissão, o que também está correto. É a manifestação de cunho religioso que mais aglomera pessoas no Brasil.
     É uma tradição mais que centenária, que acontece todos os anos, no segundo domingo de outubro, em várias cidades, vilarejos, lugarejos e comunidades distantes, no Norte do Brasil. Sendo que o mais conhecido turisticamente é o círio que acontece na cidade de Belém do Pará. É um cerimonial onde os católicos vão agradecer e honrar Nossa Senhora de Nazaré.
     Muitas comunidades primitivas também realizavam procissões em honra aos seus deuses. Na antiga Grécia, aconteciam em honra ao deus Dionísio. Eram procissões que ao som da música de flautas, as bacantes dançavam em honra ao Deus Dionísio, juntando-se aos Sátiros, também dançarinos, que vestidos a caráter imitavam bodes, cujos animais, para a cultura grega da época significavam os companheiros do Deus.
     Essas procissões tinham caráter comum, onde todos os celebrantes se juntavam tendo à frente jovens que cantavam um hino improvisado, chamado “ditirambo”, e assim giravam em torno do altar do Deus, agradecendo pela colheita da uva e pelo sexo que significava a fertilidade da vida. E foi exatamente desse coro, do contraste entre o espírito Dionisíaco e Apolíneo que nasceram a Tragédia e a Comédia. 
     Em seguida o coro separou-se do recitador, nesse momento crucial da história do teatro havia nascido o primeiro ator. Contudo, na procissão já se podia constatar três artes: o canto, a dança e a atuação. Nesse caso, à frente vinha o “Corifeu” – de onde surge a palavra Coro – vestido com pele de bode. Consequentemente todo o resto do grupo respondia ao ditirambo, atuando como um verdadeiro balé litúrgico, numa fusão do trágico e do cômico. Essa narrativa cantada era sempre feita em terceira pessoa. Em 534 a.C. Théspis, um corifeu que participava da festa, representou pela primeira vez Dionísio, transformando essa narrativa em primeira pessoa e dando origem à plateia.
     Poderíamos fazer aqui, uma relação como o Círio de Nazaré, quando todos os anos, numa determinada época, o povo se reúne para louvar a sua Santa (Deusa) Virgem de Nazaré. Neste caso, com características próprias de uma cultura contemporânea do século XXI. É interessante saber que apesar da distância cronológica, momentos semelhantes existem entre essas duas manifestações religiosas, como por exemplo, o vigário assumindo o lugar do Corifeu, que quando fala uma estrofe de uma oração que, automaticamente o povo responde, representando nessa ocasião, o coro. E assim a cultura segue seu rumo. Viva o Círio de Nazaré. Viva o Círio de Macapá.
    




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