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segunda-feira, 17 de junho de 2024

MARABAIXO E ANCESTRALIDADE

 

 

     Dançar em círculo é um fenômeno secular. Egípcios, Indianos, Chineses e habitantes da Ilha de Java já praticavam esse tipo de dança, quando isolados do mundo, para principalmente, louvar seus deuses. É a partir do contato entre as civilizações do Ocidente e do Oriente que manifestações desse gênero passam também a fazer parte do cotidiano dos povos em países do Ocidente.

     Um caso específico desse modelo de manifestação social encontra-se na Grécia antiga que herdou, principalmente do Egito, as manifestações em círculo que eram consagradas aos deuses Ísis e Osíris. Ao passo que no Egito antigo louvavam-se Ísis e Osíris, na Grécia, uma das principais manifestações em círculo foi o culto ao Deus Dioniso; Deus da uva, do vinho e da fertilidade. Haveremos de convir que a capoeira no Brasil é realizada em círculo como também a ciranda, que é muito apreciada no Nordeste.

     O Canto Ditirâmbico, na Grécia antiga era uma manifestação em círculo, na qual, os participantes dançavam compassadamente ao ritmo de música tocada com instrumentos primitivos; a imagem do Deus Dioniso situava-se ao centro e todos cantavam e dançavam ao seu louvor. Havia nessa manifestação um personagem conhecido como Corifeu. O seu papel era o de falar algum verso para em seguida, o Coro responder juntamente com os participantes. Além do lado religioso, o Canto Ditirâmbico também apresentava seu lado profano, como por exemplo, o uso da ingestão do vinho que era uma bebida considerada sagrada.

     Como se pode observar, essa manifestação com mais de sete séculos e meio, nos apresenta algumas semelhanças com a dança do marabaixo: enquanto o canto ditirâmbico é em homenagem ao Deus Dioniso, o marabaixo é em honra ao Divino Espírito Santo e à Santíssima Trindade; no culto grego os dançantes participam em círculo, tanto quanto o que ocorre no marabaixo; no marabaixo há um tirador de ladrão, falando versos para que as pessoas respondam em função de um ritmo, da mesma forma que no culto ao deus grego há o Corifeu que também fala algumas frases que são automaticamente respondidas pelo coro e pelos dançantes.

     Outras influências que poderíamos observar no marabaixo é em torno do uso de vestimentas adequadas para aquele precioso momento que se reveste de uma densa religiosidade. Uma questão interessante é o uso da murta no ciclo do marabaixo, essa planta também tem sua ancestralidade, visto que nas comemorações ao deus Dioniso, os iniciantes usavam coroas confeccionadas com murta. Todo ritual religioso possui sua bebida sagrada, no culto ao deus Dioniso, era o vinho, já no marabaixo é a gengibirra. O marabaixo quando vivido no seu local de origem é um jogo cultural telúrico em que todos participam, mas, quando apresentado num palco ou num auditório é puro teatro, essa é outra questão a ser discutida.

 

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