Contatos

palhanojp@gmail.com - palhano@unifap.br

sexta-feira, 24 de abril de 2015

BI TRINDADE - O MENINO DO LAGUINHO

    
    Reconhecido como artista de primeira linha, na década de 1970, Bi Trindade exerceu grande influência no que diz respeito às artes no Amapá, digo, às artes em geral. Sim! Visto que ele era um artista versátil: ator, escritor, poeta, músico, professor, além de ser tradutor de várias composições da Música Popular amapaense para o idioma francês.
     Como tantos outros artistas da década de 1970, o teatro surgiu na vida de Bi Trindade no bairro do Laguinho, principalmente no Grupo Telhado. Também não poderia deixar de ser, foi contemporâneo de Osvaldo Simões, Consolação Corte, Juvenal Canto entre outros jovens da época.
     É considerável afirmar que na década de 1970, com a criação do Grupo Telhado; com a criação do Grupo Pilão e com vários eventos artísticos, como feiras de artes, promovidos por esse grupo de pessoas. Foram os jovens do Laguinho que conseguiram transformar o seu bairro no maior centro cultural do Estado do Amapá, naquele momento histórico.
       O Telhado foi um grupo de teatro que em muito contribuiu para a formação de atores do Amapá, visto que o grupo trabalhava observando a arte como um sério métier. Lembra Bi, que o grupo conseguiu assinar convênio com o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL. Em função do seu trabalho, o grupo conquistou e teve à sua disposição o Cineteatro Territorial, para realizar seus ensaios e suas apresentações.
     Mas, o telhado não só se dedicava à arte pela arte. Como grupo de vanguarda se preocupava tanto com o trabalho artístico, no caso a mise em scéne, como em debater com a sociedade local suas angústias, suas emoções e seus problemas político e sociais. Bi Trindade participou em espetáculos como: “Antônio, Meu Santo” e “A Mulher que Casou 18 Vezes” e “O Menino do Laguinho”.
     “A Mulher que Casou 18 Vezes” além de ter sido um bonito espetáculo, nela Bi representou dois personagens e ainda trabalhou na música. Foi uma adaptação de cordel, que deixava o público sempre à vontade porque era de fácil compreensão. Além disso a peça deixou para ele a experiência de viajar pelos cinco municípios amapaenses que existiam na época: Macapá, Porto Grande, Ferreira Gomes, Calçoene, Amapá e Oiapoque.
     Além do Grupo Telhado, Bi participou de outros grupos de igrejas como São Benedito e Jesus de Nazaré. Em 1977, na igreja São Benedito, padre José solicitou que o grupo apresentasse a via sacra ao vivo pelas ruas do bairro laguinho. O trajeto ficou assim determinado: saída da referida igreja, seguindo por ruas do Pacoval; depois, passando em frente à igreja Nossa Senhora Aparecida, em seguida voltando pela rua Eliezer Levy e boêmios do Laguinho, para finalizar com a crucificação de Cristo que acontecia na Igreja São Benedito.
     No trajeto, o povo do Laguinho seguia a Via Sacra como se fossem verdadeiros figurantes. Seguiam como verdadeiros romeiros, como se estivessem seguindo o próprio Cristo. Nessa apresentação aconteceu um fato sui gêneris no teatro do Amapá, é quando Bi tornou-se pela primeira vez na história do teatro o primeiro cristo negro numa montagem sobre a vida de cristo, no Amapá.
     Outro legado que Bi Trindade trouxe desse período, foi não só o fato de ter sido bom ator, mas de ter se tornado um dos melhores intérpretes de música amapaense. Por todo esse tempo ele transitou entre o teatro e a música, sendo também um dos fundadores do Grupo Pilão. Muitas vezes era ator e compositor das músicas das peças, caso que aconteceu na montagem “O Menino do Laguinho”.
     A peça “O Menino do Laguinho”, cujo diretor era Pedro Tavares, foi pensada pelo grupo de forma coletiva, portanto, não houve um autor específico. Nesse espetáculo, Bi Trindade representava um personagem que ensinava um cego. O Menino do Laguinho serviu como ponto de partida para Bi em função de que foi o primeiro trabalho que participou, exaltando o lugar em que morava e suas origens. O espetáculo exaltava a problemática do amapaense, focando o menino do laguinho.
     Na década de 1980 foi parceiro de Celso Dias quando participou no Grupo de Teatro do SESC/Amapá. Nessa época, o SESC foi um dos grandes motivadores da arte no Amapá. O fato de ter se dedicado ao teatro em muito contribuiu para exerce o magistério como professor de francês.
     Iniciou como cantor, imitando artistas como Wilson Simonal e Toni Tornado e foi um dos fundadores do Grupo Pilão, do qual se tornou compositor e cantor efetivo. Por outro lado, para ele, o teatro foi uma saída em busca de entretenimento, para ocupar a mente, para se divertir e para levar alegria para outras pessoas. Fato é que o Grupo Telhado na década de 1970, foi um movimento de mobilização que teve sua importância na formação cultural de muitos jovens no Estado do Amapá. E foi no Telhado, que Bi Trindade se considerava o próprio Menino do Laguinho.


Nenhum comentário:

Postar um comentário