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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

OBRA DE ARTE E TRABALHO




     Em primeiro lugar nos deteremos em enfocar a arte, que é algo desinteressada do espírito e apresenta independência relativa com relação às necessidades. A criação de uma obra está relacionada ao trabalho, mas contraditoriamente a obra enquanto tal se opõe ao trabalho. Ela também é alheia à lógica do consumo, embora tenha se tornado uma mercadoria na era contemporânea.
     Vivemos para criar e a obra impõe-se à vida como o fim. Coloca a vida em estado de obediência e desembaraça a vida e a morte. A obra nos faz ter acesso ao mundo instaurando diálogos entre as gerações desaparecidas, os vivos e as gerações futuras. É a obra que nos faz ter acesso ao mundo e nos desembaraça a vida e a morte. A obra converte o tempo em espaço e separa o construir do destruir.
     Desde que o mundo é mundo e após ser estabelecida nele, a obra tem vocação para nele permanecer e se ordena em torno da ideia de movimento. Em se tratando de questões psicológicas a obra nunca é trabalho forçado, mas, por outro lado, em questão de seriedade a obra em nada perde para o trabalho. É em função da obra que o homem imortaliza, encara e conhece sua mortalidade.
     Isto porque o trabalho na obra soa leve, ele justifica o mais nobre orgulho embriagando assim o seu criador. A obra faz a realidade crescer e tem a capacidade de estabelecer um diálogo além do tempo, com outros homens de outras sociedades. Enfim, toda obra é trabalho, mas nem todo trabalho é obra.
     Diferente da obra, o trabalho é ligado à subsistência e parece nunca experimentar uma humanidade realizada visto que como tem de trabalhar, o homem é menos livre e menos feliz do que o animal. O trabalho é transição, não é comunicação, nele o homem consome e é consumido. O trabalho se autodestrói ao exigir do trabalhador um gasto de energia para produzir objetos para o consumo.
     No trabalho o homem trabalha para sobreviver, para reproduzir-se e esgota-se na reprodução de uma vida perpetuamente agonizante. Na realidade, ninguém aproveita definitivamente o trabalho, nem os que desfrutam de seus produtos, nem os que se matam para produzi-los. Todo trabalho é alienado e está condenado a não ter fim. Hércules é tudo menos trabalhador, visto que seus trabalhos não representam necessidades, porém prodígio. Ao contrário de Hércules o homem trabalha para viver, sujeitando-se à lógica do consumo e subordinando-se à vida.
     O trabalho esgota-se na produção de objetos e nos obceca não nos permitindo habitar o mundo. Ele é o espaço convertido em tempo, sempre tem de ser refeito, constrói e destrói, organiza-se a partir do consumo, obceca e mecaniza o ser humano. Enfim, o animal humano é nitidamente caracterizado, como espécie e na sua origem, pela pulsão de produzir um excedente.

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