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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

PROMETEU E EPIMETEU

 

 

     De acordo com a bíblia e segundo o livro do Gênesis, Deus criou o primeiro homem, Adão, a partir do barro. Essa narrativa simboliza que o ser humano é constituído de elementos da terra, portanto, Adão foi o primeiro homem destinado a proteger, zelar e cuidar da terra. Depois, a partir da costela de Adão, Deus criou Eva, para ser sua companheira. Na mitologia grega também há uma narrativa sobre a criação do homem, levando-se em consideração que na Grécia, tanto o homem quanto a mulher foram feitos de barro. Este mito refere-se aos Titãs Prometeu e Epimeteu.

      Narra a história, que Prometeu e Epimeteu foram encarregados por Zeus (principal deus do Olimpo), para criarem os seres vivos e lhes distribuir suas qualidades. Prometeu é aquele que pensa antes de agir, é o pré-pensador, o que olha para o futuro, segundo a mitologia grega, foi ele quem criou os seres vivos a partir da argila, e a deusa Atena deu o sopro de vida a esses novos seres. Epimeteu é o que age para depois pensar, é o pós-pensador, o que olha para o passado, ele ficou com a responsabilidade de conceder um dom específico a cada ser vivo.

     Porém, com pouca atenção e totalmente despreocupado, Epimeteu, que agia antes de pensar, distribuiu os atributos a todos os animais, de forma que, o homem era o último dessa fila, e quando chegou a sua vez, o Titã já havia distribuído todos os dons divinos. Isto significa dizer que, além de ser um dos mais fracos animais, o homem ainda ficaria à mercê das vicissitudes e perigos da natureza. Entretanto, para resolver este problema, Prometeu, o que pensa antes de agir, subiu ao Olimpo, usurpou o fogo dos deuses, e em seguida, o presenteou aos indefesos animais racionais.

     Com essa atitude, Prometeu concede ao homem, a capacidade de se proteger e de progredir a partir do conhecimento e das artes. Diferentemente da Bíblia, quando Adão e Eva, por intervenção da serpente, são castigados porque comeram o fruto da árvore proibida, a árvore do conhecimento. No mito grego, é o Titã, o semideus, que intercede e repassa o conhecimento aos próprios homens. Assim, Prometeu concede a capacidade do homem se proteger e de progredir a partir do conhecimento e das artes, dominar a natureza e a si mesmo.

     Por outro lado, Zeus, o maior dos deuses, ficou enfurecido com os humanos e com Prometeu. Sendo assim, o acorrentou a um rochedo no Cáucaso, onde uma águia era enviada todos os dias para devorar seu fígado. Como Prometeu era imortal, seu fígado se regenerava durante a noite, garantindo assim o sofrimento perpétuo. Zeus também ordenou que Hefesto, moldasse da terra, a primeira mulher, Pandora, que significa, “a que tudo dá”, “a que tudo possui” e “a que tudo tira”. Epimeteu se apaixonou perdidamente e se casou com Pandora, que abriu a caixa e soltou todos os males do mundo para os homens, ficando no recipiente, apenas a esperança, como bálsamo para a angústia dos homens.

terça-feira, 14 de outubro de 2025

VIVA O CÍRIO

 


     No teatro grego antigo havia a organização de procissões, que se tornaram muito mais religiosas do que profanas. Essas procissões tinham caráter comum, onde todos os celebrantes se juntavam tendo à frente jovens que cantavam um hino improvisado, chamado “ditirambo”, e assim giravam em torno do altar do deus, agradecendo pela colheita da uva e pelo sexo que significava a fertilidade da vida. E foi exatamente desse coro, do contraste entre o espírito Dionisíaco e Apolíneo que nasceram a Tragédia e a Comédia. A tragédia tinha como principais características o terror e a piedade que despertava no público. Era constituída de cinco atos e voltava-se para o resgate da mitologia grega, com seus deuses, heróis e feitos. A comédia era dividida em duas partes com um intervalo. Tratava dos homens comuns e de sua vida cotidiana.

     Em seguida o coro separou-se do recitador, nesse momento crucial da história do teatro havia nascido o primeiro ator. Contudo, na procissão já se podia constatar três artes: o canto, a dança e a atuação. Nesse caso, à frente vinha o “Corifeu” – de onde surge a palavra Coro – vestido com pele de bode. Consequentemente todo o resto do grupo respondia ao ditirambo, atuando como um verdadeiro balé litúrgico, numa fusão do trágico e do cômico. Essa narrativa cantada era sempre feita em terceira pessoa.

     E assim constituiu-se a Tragédia: o ator e o coro se respondem cantando, em seguida o ator fala e o coro canta e posteriormente o ator dialoga com o Corifeu, representante do coro. Vale salientar que nesse momento embrionário da Tragédia não havia atos nem intervalos, sendo a mesma, composta de partes dialogadas e partes faladas.

     Como muitas festividades que se conhece de povos antigos e contemporâneos, o Círio de Nazaré se insere nesse rol em que seu significado faz parte de uma comunidade que se debruça a louvar seu Deus. Neste caso, a Virgem de Nazaré. E passa a agradecer as lutas, conquistas e promessas alcançadas ao longo do tempo que se passou. Inclusive, e principalmente à vida. Agradecemos principalmente por estarmos vivos. E semelhantemente acontece no Círio de Nazaré, quando todos os anos, numa determinada época, o povo se reúne para louvar a sua Santa (Deusa) Virgem de Nazaré. É interessante saber que apesar da distância cronológica, momentos semelhantes existem entre essas duas manifestações religiosas, como por exemplo, o vigário assumindo o lugar do Corifeu, que, quando fala uma estrofe de uma oração, automaticamente o povo responde, representando nessa ocasião, o coro.

      Manifestações como estas, denota a declaração antropológica de que pertencemos àquele ou a este grupo ou comunidade. É nessa grande homenagem à nossa Senhora de Nazaré que uma multidão vai às ruas para agradecer à Santa ou para lhe ofertar promessas, muitas vezes em troca do sonho de galgar uma casa própria. E é nessa relação de fé e de caridade, que muitas vezes esses sonhos se realizam. Nesse caso, cria-se um elo muito forte, denso e emotivo em relação à imagem da Santa Virgem de Nazaré, que traz não só paz, mas que também serve como terapia e cura para muita gente. Com os atropelos da sociedade contemporânea que, na ânsia de enriquecer de qualquer forma, impõe cotidianamente na cabeça das pessoas a necessidade do consumo desenfreado. E esse não é o caminho. Portanto, apelar para a Virgem de Nazaré é uma boa causa e faz bem à saúde e à alma.   

 

 

 

domingo, 5 de outubro de 2025

XXI MOSTRA DE EXPERIMENTOS

 


     Nos seus dois primeiros anos, o Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Amapá, promovia dois eventos: a Semana de Teatro, no primeiro semestre, que era dedicada ao público acadêmico; e o Seminário Científico em Artes Cênicas do Amapá, no segundo semestre, que era um evento aberto para a comunidade em geral. Nos anos de 2014 e 2015, os eventos se procederam dessa maneira. A partir de 2016, com a contratação de novos professores, foi criado novo sistema, que fez surgir a Mostra de Experimentos, à qual, passou a acontecer sempre no final de cada semestre.

     Nessas últimas duas semanas do encerramento do semestre 2025.1, aconteceu a XXI Mostra de Experimentos do Curso de Teatro da UNIFAP. Essa Mostra de Experimentos é de fundamental importância para o referido curso, para os acadêmicos, como também para a comunidade em geral. São espetáculos baseados em estudos teóricos e práticos, resultados finais das disciplinas, cujo acesso aos mesmos, é totalmente gratuito. Salientando que grande parte da programação acontece no Departamento de Letras e Artes da UNIFAP. Cada espetáculo revela o processo de estudos e discussões teóricas como fundamentação para se colocar em prática todo o aprendizado do semestre.

     Cada mostra que acontece a cada final de semestre, traz consigo, trabalhos pedagógicos de professores Doutores, tendo como ponto de partida estudos, reflexões e análises fundamentadas em historiadores do teatro, encenadores, filósofos, e estudiosos que contribuíram com o fazer teatral ao longo da história do teatro. Por outro lado, a partir das disciplinas práticas, todos os exercícios são direcionados para a idealização e criação dos espetáculos, que se revelam como apoio para o futuro profissional das artes cênicas, o qual, poderá assumir o exercício da função no território nacional, tanto na educação ou como produtores culturais.

     O objetivo deste processo, é um trabalho que envolve a criatividade, a pesquisa, a educação e o conhecimento do seu próprio corpo, a socialização, criação artística e estética, o conhecimento técnico, a preparação de atores/professores, envolvendo todo o processo de montagem de uma obra cênica, com perspectivas fundamentadas na teoria teatral e pesquisa artística. O resultado final faz parte de um grande laboratório traçado durante cada semestre letivo, e com isso, ganha os professores, os acadêmicos, a universidade, e o público que prestigia esses momentos sui generis, no final de cada semestre.

     Esta peregrinação que começa no início do semestre e se consolida nas apresentações no término das aulas, mais parece o caminho para Elêusis, que, como verdadeiros mystai, os acadêmicos de teatro são iniciados nos mistérios dionisíacos, os rituais religiosos e secretos dedicados ao deus Dioniso. Importante frisar que todo esse processo tem o objetivo comum de preparar o futuro profissional das artes cênicas. A única coisa que se precisa para fazer teatro, é a vontade de fazer teatro, mas, com pesquisa, discussão e estudos aprofundados, certamente, favorece a criação cênica no sentido estético e global, além de preparar o acadêmico para o breve futuro que o espera, com a certeza de estar preparado para desenvolver suas habilidades no território nacional.