Desde garoto que convivi com a literatura
de cordel, principalmente na feira livre da cidade de Itabaiana, na Paraíba,
que tanto Sivuca cantou em sua “feira de mangaio”. Na década de 1970, do século
XX, havia vários cordelistas, recitando versos e vendendo os córdeis para os
aficionados. Eram histórias de reis, rainhas, sobre a política da época ou até
em função de qualquer fato pitoresco que houvesse acontecido. Cordel sobre
Lampião, eram os mais cotados da época.
E
tudo acontecia ao ar livre, na rua mesmo, onde as pessoas passavam para fazer
sua feira da semana. Bastava um microfone de lapela, uma bateria de carro, um
autofalante, um guarda sol e ainda vários cordões, onde se penduravam os
livrinhos de literatura de cordel. O apresentador tinha que ser mestre no
assunto, porque além de leitura dramática das mais diversificadas histórias, ele
tinha que ser muito bom na improvisação.
Escrever cordel não é tão fácil como se
pensa, gosto desse tipo de literatura como também tenho algum material escrito,
ainda não publicado. Em função do lockdown e do blackout que
aconteceu no início deste mês de novembro em nosso estado, resolvi ler alguns
cordéis que tenho carinhosamente guardados num nostálgico baú. Entre tantos,
felizmente encontrei o cordel do ilustre radialista Cacá de Oliveira,
intitulado “Brasil do Avesso em Versos”.
Cacá tem suas raízes em Pernambuco. A
métrica e a rima que ele usa neste cordel apresenta vinte e seis estrofes em
sextilha. Preocupado com nosso país, enfoca poeticamente, um Brasil com vários problemas
políticos e sociais, como feminicídio, desrespeito aos idosos, sobre a
bandidagem, os quais, poderiam ser resolvidos por nossos gestores. Nos versos
abaixo, ele realmente se mostra atônito com a distribuição de renda entre as
pessoas:
Uma coisa me
entristece
É renda e
distribuição
Se concentra na
minoria
A maioria fica na
mão
Quem trabalha
ganha pouco
E um pouco, um
dinheirão.
E é de forma lírica que Cacá vai
desenvolvendo seu cordel, mas, sempre denunciando as injustiças sociais, como
no caso dos feminicídios tão comuns hoje em dia.
Violência contra a
mulher
E também com o
inocente
Aumentando a cada
dia
Assustando muita
gente
Às vezes na
própria casa
Também tem um
delinquente.
Nosso pernambucano/amapaense, radialista,
jornalista e cordelista, sutilmente, também buscar indicar algumas resoluções
para determinados problemas sociais, como pode-se observar aqui:
É necessário
investir
Melhorar a
segurança
Nós temos que
apelar
Sem perder a
esperança
Porque tem que
proteger
Do mais velho à
criança.
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