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segunda-feira, 28 de abril de 2025

MANIA DIVINA

 


     Ouvindo “Amante Latino” de Rabito, com versão de Antônio Carlos e interpretada por Sidney Magal, música que galgou estrondoso sucesso no ano de 1977, e que depois foi transformada em filme no ano de 1979, comecei a estudar a referida letra e, consequentemente, a fazer algumas reflexões em relação à mensagem que a mesma poderia enviar ao público em geral. De acordo com o seu conhecimento, cada indivíduo fará sua própria leitura de uma referida música, ou de qualquer imagem que o rodeia. Já dizia Einstein: “Tudo aquilo que o homem ignora, não existe para ele. Por isso, o universo de cada um, se resume ao tamanho do seu saber”. A propósito, quando jovem de 16 anos, eu também vivi essa época e em muito ouvia e curtia os sucessos de Sidney Magal. Observemos a seguir, uma parte da letra da música Amante Latino: sou como você já sabe, amante latino/Eu gosto das mulheres da noite e do vinho/Levo a vida sorrindo e sempre cantando/Eu não esquento a cabeça e nem vivo chorando/E assim nos amaremos até sair o sol/E encontrarás comigo o fogo do amor.

     Várias leituras poderiam ser feitas em função desta letra, mas, na minha concepção, tenho o olhar voltado para uma grande festa, ou seja, um bacanal que tem sua relação com Dioniso, antigo deus grego. Salientando que esse trecho da música, se torna um refrão que sempre será repetido ao longo do tempo da gravação. A partir do artista que criou o personagem chamado Sidney Magal, a música em si, era muito mais dirigida às mulheres do que aos homens, portanto, ele invoca todas as mulheres para passar juntos, uma noite regada ao vinho, da mesma forma como faz o deus Dioniso na peça As Bacantes, quando convoca todas as mulheres tebanas para participarem do seu culto durante a noite nas altas montanhas gregas, festividades estas, que tinham por base o vinho. E isso fica explícito quando o autor afirma: eu gosto das mulheres, da noite e do vinho.  

     O culto ao deus Dioniso, acontecia sempre à noite em montanhas e florestas, com muito vinho, junto aos seus seguidores que eram as bacantes ou mênades, como também pelos sátiros que eram os protetores das florestas. Tal assunto, está presente em várias tragédias gregas. Era festividade de muitos delírios, alegria e bebida. Este trecho da letra: levo a vida sorrindo e sempre cantando/Eu não esquento a cabeça e não vivo chorando, denota o sentimento dionisíaco, de um estado de delírio e liberdade, visto que nesses bacanais a relação sexual era liberada e realizada ao ar livre, culminando com o êxtase dos ritos, nessa mania divina. Eram momentos de orgia, que revelam a ideia de dualidade onde a sanidade e a loucura são opostos que caminham juntos.

     A última frase da música: e assim nos amaremos até sair o sol/E encontrarás comigo o fogo do amor, vai de encontro à necessidade das bacantes em participar desses cultos, frente à repressão grega contra o sexo feminino, uma espécie de buscar nos cultos a Dioniso o que a própria sociedade grega não as oferecia, um verdadeiro bálsamo, visto que amar até o nascer do sol, era um dos principais objetivos do culto dionisíaco. Naquele rito, certamente, todos encontrariam o fogo do amor, que significava uma fuga às rígidas regras daquela sociedade do quinto século Antes de Cristo.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

TEATRO DOS JESUÍTAS

 


     As atividades com teatro no Brasil têm início com o padre José de Anchieta, o qual, é caracterizado historicamente como símbolo, tendo em vista que na colonização e aculturação dos nativos, os jesuítas utilizaram principalmente o teatro, como forma pedagógica para catequizar os que aqui já habitavam. Embora o padre jesuíta fizesse parte de um sistema que destruía tudo de novo e diferente do pensamento europeu, para prevalecer a ordem a que pertencia, uma questão culturalmente positiva, foi a utilização do teatro nesse período. 

     Como soldado fiel à catequese ele conseguiu seus objetivos, encenando peças simples, com versos tupis de fácil compreensão, conquistando assim, os indígenas. Nesses autos, Anchieta aproveita a tendência natural dos silvícolas para a representação, música e dança. Em sua dramaturgia ele renomeava as personagens de acordo com sua ideologia religiosa, por exemplo, ao diabo ele determinava o nome de tribos inimigas. De qualquer forma, ele era bem objetivo nas suas ações, embora em suas representações, se utilizasse de linguagens simples para os povos da época, por outro lado, quando se comunicava com Portugal, escrevia com melhor vocabulário aumentando o nível da escrita.

     No século XVII, a política brasileira era omissa e com vários problemas. Nesse período também começaram a surgir crises internas na Companhia de Jesus. Preocupado com a educação dos índios com ideologia religiosa, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas do Brasil, o que fez com que padre Anchieta retornasse a Portugal. Embora discutível, essa ação religiosa com os índios, a verdade é que o teatro foi um forte instrumento para a catequização dos primeiros moradores dessas terras. A premissa dos jesuítas era de que: um exemplo vale mais do que um discurso. Ainda no século XVII, Manoel Botelho, um baiano de cultura europeizada, se destaca por fazer um teatro profano com leve desenvolvimento popular.

     Já no século XVIII, surge Antônio José da Silva ou Antônio José, o Judeu, que foi para Portugal aos oito anos de idade e adquiriu formação portuguesa, ele destacou-se como um bom autor, a ponto de suas peças serem aceitas em outros países. Alguns de seus textos: “Europa do Século XVIII”, “Dom Quixote”, e “As Guerras do Alecrim e da Manjerona”. Nesse período, começou a se desenvolver as Casas de Óperas. Em seus escritos sobre teatro, padre Ventura, desenvolveu alguns trabalhos juntos aos mulatos.

     Em função das questões políticas, se por um lado ele teve que expulsar os jesuítas do Brasil, por outro lado, Marquês de Pombal, demonstrou grande interesse com a produção teatral da época, e se tornou um grande animador, visto que considerava a representação como um veículo de formação do povo. Ele iniciou o reconhecimento dos artistas de teatro, e criou algumas normas para reger atores e atrizes e profissionais da área, quando criou a norma de que: “o ator não pode ser preso a caminho do teatro”, por outro lado, no mesmo documento também constava que: “se o ator não comparecer ao teatro para se apresentar para o público será preso”.

segunda-feira, 14 de abril de 2025

UMA CRUZ PARA JESUS

 

 

     Neste domingo de ramos inicia-se a Semana Santa. E no final desta semana teremos a apresentação do espetáculo Uma Cruz Para Jesus. Com uma vida dedicada ao teatro do Amapá, o ator e diretor de teatro Amadeu Lobato merece meus cumprimentos e minhas felicitações, em função de sua persistência e dedicação exclusiva à sua tradicional montagem do espetáculo “Uma Cruz para Jesus”, que neste ano de 2025, está completando seus 46 anos em cartaz. É bom lembrar que, no Brasil, são poucos os grupos de teatro que permanecem tanto tempo em cartaz, como exemplo, José Pimentel que passou mais de 40 anos representando a Paixão de Cristo, em Nova Jerusalém, Pernambuco.

     A primeira apresentação que aconteceu no ano de 1979, teve apoio da Igreja Católica, e consequentemente, nesses quarenta e cinco anos à frente, como diretor da Companhia Teatro de Arena, Amadeu Lobato transformou seu trabalho num espetáculo ontológico e clássico do Amapá. Uma peça em que não se paga ingresso, onde o acesso é livre para o público em geral, sem discriminação de cor, etnia, religião e classe social. Todos podem assistir ao referido espetáculo, e para isso, basta se dirigir na sexta-feira santa, ao teatro ao ar livre que existe na lateral norte da Fortaleza de São José de Macapá, no centro da cidade. 

      Para aqueles que acompanham essa trajetória, basta imaginar que são 46 anos de resistência em relação ao fazer teatral nas terras tucujus. Amadeu Lobato é nosso grande Mestre do teatro amapaense e transformou seu espetáculo numa considerável escola de teatro ao ar livre, visto que significativa parte dos artistas do Amapá, pela primeira vez, subiram ao palco, nesta escola. Também não é para menos, sua peça coloca em cena, todos os anos, mais de cem atores e atrizes, concentrados num espetáculo de um pouco mais de uma hora, na área externa da Fortaleza.

     Mas o que muito me chama atenção é a falta de apoio dos órgãos públicos e até mesmo dos empresários para um melhor apoio para o desenvolvimento do referido espetáculo. Em Oeiras, cidade do interior e antiga capital do Piauí, também há um grupo que encena a Paixão de Cristo, e diferentemente do Amapá, o espetáculo de Oeiras, todos os anos é transmitido ao vivo para todo o Estado do Piauí. Em muito me admira que, com vários canais de televisão aqui no Amapá, e durante todo esse tempo, nunca, nenhum deles se propôs a fazer uma transmissão ao vivo para o Estado do Amapá, da peça Uma Cruz para Jesus, essa produção local que merece esse olhar.

     Em outras capitais de Estados como Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, para esse tipo de espetáculo há editais específicos com apoio financeiro, em que todos os profissionais da área ganham uma bolsa durante sua participação de montagem e apresentação do mesmo, do figurante ao ator principal que geralmente é um ator conhecido nacionalmente e que é contratado pelo Estado para representar o papel de Cristo, durante as apresentações da Semana Santa. Que Uma Cruz para Jesus alcance mais uma vez o sucesso que merece. 

domingo, 6 de abril de 2025

CINETEATRO / ESCOLA BARÃO

 


     Encontra-se em vários blogs e páginas na internet a afirmação de que a Escola Barão do Rio Branco foi construída antes do Cineteatro Territorial, inclusive enfoca-se que o Cineteatro Territorial fica aos fundos da Escola Barão. Na verdade, o Cineteatro Territorial foi construído e inaugurado em 22 de julho de 1944, enquanto que a inauguração da Escola Barão do Rio Branco ocorreu em 13 de setembro de 1946, ou seja, após dois anos e dois meses em relação ao Cineteatro.              

   Ao observar a foto aqui postada, que se encontra no site: http://porta-retrato-ap.blogspot.com.br, percebe-se em primeiro plano, o registro da construção da Escola Barão do Rio Branco. De fato, ela nos revela, não só isso, mas, muito mais do que se percebe à primeira vista. Em último plano, ao lado esquerdo, localiza-se o prédio do Cineteatro Territorial que já estava ali, em plena atividade, e que fora inaugurado em julho de 1944. Esta foto e este fato provam que o Cineteatro foi inaugurado antes da Escola Barão do Rio Branco. Tendo sido o Cineteatro, inaugurado em 22 de julho de 1944, e a Escola Barão, em 13 de setembro de 1946, sendo que, consequentemente, foi esta instituição de ensino quem, determinantemente, ofuscou o prédio do Cineteatro Territorial. Transportando para a atualidade cotidiana, a ideia de que o Cineteatro fica nos fundos da Escola Barão.

     O desenho arquitetônico original do prédio do Cine Teatro, tem sua entrada principal para o oriente, em direção à atual Rua Candido Mendes; e os fundos para o ocidente, em direção à atual Rua São José. Estudando mais profundamente, percebe-se que a referida foto nos revela o momento da edificação da Escola Barão do Rio Branco entre 1945 e 1946.  Aqui, observa-se o momento exato da anexação do edifício do Cineteatro Territorial, àquela instituição de ensino. Nesta ocasião, já fazia aproximadamente, dois anos que o prédio do Cineteatro havia sido inaugurado, (julho de 1944). Em função desse fato, só se observa andaime de madeira, no edifício da Escola, que a partir de uma linha perpendicular cria um ângulo reto nas paredes do Cineteatro. O edifício do Cineteatro apresenta-se concluído, intacto e em plena atividade, como pode-se observar, segundo a foto.

     Possivelmente, e de acordo com a necessidade dos gestores, resolveram isolar o frontispício daquela casa de espetáculos, consequentemente, abrindo acesso lateral, momento em que a anexaram definitivamente à escola. Este fato se concretizou principalmente a partir do ano de 1961 quando o prédio do Cineteatro foi desativado por José Francisco de Moura Cavalcante, então governador, inimigo político de Janary Nunes. Na atualidade, o edifício do Cineteatro Territorial foi restaurado, e possui uma entrada alternativa, pela Rua São José.