Todos já ouviram falar sobre o filme que
tem como título este artigo. Ainda Estou Aqui, é um filme de 2024, dirigido por
Walter Salles, tendo como protagonista Fernanda Torres, no papel de Eunice
Paiva e, Selton Mello como Rubens Paiva. A referida obra foi baseada na
autobiografia homônima de 2015, escrita e publicada por Marcelo Rubens Paiva,
como pode-se observar, o enredo revela a história da família Paiva, com enfoque
no Marcelo Rubens Paiva e Eunice Paiva, sua esposa. Ainda Estou Aqui, foi
lançado em novembro de 2024. Em razão do filme enfocar questões relacionadas à
ditadura militar, que se deu entre o período de 1964 a 1985, do século XX, evidenciando
as mais diversas consequências de desagregação do núcleo familiar, sofreu um
boicote da direita brasileira. Apesar disso, virou um sucesso de bilheteria, e
já alcançou um público de mais de seis milhões de espectadores.
Foi distribuído no mercado internacional
com o título I’m Still Here e, em
março deste ano, fez história quando conquistou o prêmio de melhor filme internacional
no Oscar, nos Estados Unidos. Consequentemente, em vários países da Europa e do
mundo, o filme foi automaticamente traduzido para que o globo conhecesse um
pouco dessa fase obscura que aconteceu no Brasil no século XX. Embora a mídia
nacional e internacional tenha tido colocado em tela, tal acontecimento, à
vista disso, e possivelmente pelo fato de ter conquistado o Oscar, é notório
que grande parte da população se sensibilizou em assistir ao referido filme.
Destarte, decido trazer à tona, semelhantes acontecimentos artísticos de
décadas passadas, que, pelo fato de não terem tido o regozijo de galgar um
Oscar, e de não terem sido largamente divulgados pela mídia, não lograram o
êxito do filme em tela. Direcionarei meu olhar para dois trabalhos cinematográficos,
de tamanha importância e que devem ser citados neste debate.
Em primeiro caso, citarei o filme Cabra
Marcado para Morrer, de 1984, dirigido por Eduardo Coutinho. É um filme
documentário brasileiro, que também mostra os estragos de um governo
autocrático frente às Ligas Camponesas, que eram órgãos representativos dos
agricultores brasileiros. Por sua vez, este filme também é uma narrativa
semidocumental, sobre a vida do agricultor João Pedro Teixeira, um líder
camponês da Paraíba, assassinado no ano de 1962 e, principalmente da viúva,
Elizabeth Teixeira, que participou efetivamente das gravações. O enredo mostra
a vida dos camponeses sendo expulsos da terra pelos coronéis e donos de usinas.
O filme estava sendo produzido pelos Centros Populares de Cultura da União
Nacional de Estudantes. Em função do golpe militar, as filmagens foram
interrompidas em 1964. Desde esse período, a viúva, Elizabeth Teixeira,
separada de seus filhos, vivera na clandestinidade. O referido filme também
galgou alguns prêmios como, por exemplo, o de melhor documentário, no VI
Festival do Cinema Latino-americano, em Havana-Cuba.
O segundo caso, trata-se do filme, A Hora
da Estrela, de 1985, sendo este, um drama, dirigido por Suzana Amaral. Aqui, o
roteiro foi uma adaptação do romance homônimo de Clarice Lispector. O papel
principal, (Macabéa), foi assumido pela atriz paraibana Marcélia Cartaxo, e num
Festival de Cinema de Berlim, ainda em 1985, ela tornou-se a primeira atriz
brasileira a ganhar o troféu, Uso de Prata. Após treze anos, em 1998, foi que
Fernanda Montenegro galgou o Urso de Prata, no mesmo Festival, com o filme
Central do Brasil. Hoje, quando se remete ao prêmio Urso de Prata, a população
logo se lembra de Fernanda Montenegro. É preciso estarmos atentos para as
informações que nos são dirigidas.