A mais distante data sobre vestígios do
teatro do Amapá, gira em torno do século XVIII, efetivamente em novembro do ano
de 1777, na Vila de Nova Mazagão. Embora, o povo tenha sido instalado a partir
de 1771, a primeira encenação da “Batalha entre Mouros e Cristãos” aconteceu no
ano de 1777. E isso se deu, em função das festividades em homenagem à aclamação
de D. Maria I, Rainha de Portugal. Nesse caso, Lisboa, determinou que todas as
colônias pertencentes à Portugal, fizessem homenagens à aclamação da referida
Rainha.
Nesse período, em Mazagão Velho, as
cerimônias iniciaram no dia 16 de novembro com uma missa solene e nesse mesmo
dia à noite foi cantado o Tedeum, que
é um hino de ação de graças, da Igreja Católica, que significa, A Ti Deus Louvamos. No sábado dia 22,
após a celebração de uma missa, saiu pelas ruas da Vila de Mazagão um cortejo
com carro alegórico com vinte figuras de meninas que cantavam acompanhadas por
três rebecas e três violas. Neste carro alegórico também havia dez dançarinos
mascarados, sendo que um deles recitava vários epílogos e obras poéticas.
Depois do desfile desse carro alegórico
pelas ruas da Vila, a festa continuou com a representação de uma batalha naval
entre duas naus; notadamente entre cristãos e mouros, sendo que no final os
cristãos vencem a batalha. No domingo à noite, dia 23 de novembro foram
encenadas três óperas: Demofonte na
Trácia; Dido Abandonada e Atarxerxes. Deu-se um total de sete encenações
dessas três óperas, entre o período de vinte e três de novembro a três de
dezembro. Essas três óperas são de autoria do italiano Metastasio. Para os
interessados, indico o livro de Laurent Vidal: Mazagão a cidade que atravessou
o Atlântico.
Portanto, é importante reafirmar que foi
exatamente no ano de 1777, que aconteceu a primeira apresentação da Batalha entre Mouros e Cristãos, em
Mazagão Velho. São 247 anos de
festividades ininterruptas, que também vem acontecendo durante esta semana de
julho do ano em curso. É certo que, das comemorações que foram realizadas no
ano de 1777, em homenagem à D. Maria I, Rainha de Portugal, só nos restou como
grande legado, a representação dos Mouros e Cristãos, em terra, até porque,
naquele evento também houve uma representação entre duas naus, no rio Mazagão.
Seria interessante se houvesse um resgate desta representação em duas Naus, no
rio Mazagão.
Sem sombra de dúvidas, a Festa de São
Tiago, que vem sendo realizada há mais de 247 anos, nos dias 23, 24 e 25 de
julho, é um ícone da cultura do Amapá. Dentro da programação está a encenação
da Batalha entre Mouros e Cristãos. A
festa é composta de cerimônias e rituais com cenas distintas. Em relação a esta
discussão, gostaria de citar o sociólogo e professor Dr. Fernando Canto, quando
afirma em seu livro, Adoradores do Sol,
que: Nessa data as ruas de Mazagão Velho
se transformam num grande palco onde os atores são membros da comunidade. Eles
representam as personagens da celebração da vitória dos cristãos sobre os
mulçumanos. Finalizando, considero
a encenação Entre Mouros e Cristãos, como a primeira apresentação teatral ao ar
livre, do Amapá.