Ouvindo “Amante Latino” de Rabito,
com versão de Antônio Carlos e interpretada por Sidney Magal, música que galgou
estrondoso sucesso no ano de 1977, e que depois foi transformada em filme no
ano de 1979, comecei a estudar a referida letra e, consequentemente, a fazer
algumas reflexões em relação à mensagem que a mesma poderia enviar ao público
em geral. De acordo com o seu conhecimento, cada indivíduo fará sua própria leitura
de uma referida música, ou de qualquer imagem que o rodeia. Já dizia Einstein:
“Tudo aquilo que o homem ignora, não existe para ele. Por isso, o universo de
cada um, se resume ao tamanho do seu saber”. A propósito, quando jovem de 16
anos, eu também vivi essa época e em muito ouvia e curtia os sucessos de Sidney
Magal. Observemos a seguir, uma parte da letra da música Amante Latino: sou como você já sabe, amante latino/Eu
gosto das mulheres da noite e do vinho/Levo a vida sorrindo e sempre
cantando/Eu não esquento a cabeça e nem vivo chorando/E assim nos amaremos até
sair o sol/E encontrarás comigo o fogo do amor.
Várias leituras poderiam ser
feitas em função desta letra, mas, na minha concepção, tenho o olhar voltado
para uma grande festa, ou seja, um bacanal que tem sua relação com Dioniso,
antigo deus grego. Salientando que esse trecho da música, se torna um refrão
que sempre será repetido ao longo do tempo da gravação. A partir do artista que
criou o personagem chamado Sidney Magal, a música em si, era muito mais dirigida
às mulheres do que aos homens, portanto, ele invoca todas as mulheres para
passar juntos, uma noite regada ao vinho, da mesma forma como faz o deus
Dioniso na peça As Bacantes, quando
convoca todas as mulheres tebanas para participarem do seu culto durante a
noite nas altas montanhas gregas, festividades estas, que tinham por base o
vinho. E isso fica explícito quando o autor afirma: eu gosto das mulheres, da noite
e do vinho.
O culto ao deus Dioniso,
acontecia sempre à noite em montanhas e florestas, com muito vinho, junto aos
seus seguidores que eram as bacantes ou mênades, como também pelos sátiros que
eram os protetores das florestas. Tal assunto, está presente em várias
tragédias gregas. Era festividade de muitos delírios, alegria e bebida. Este
trecho da letra: levo a vida sorrindo e
sempre cantando/Eu não esquento a cabeça e não vivo chorando, denota o
sentimento dionisíaco, de um estado de delírio e liberdade, visto que nesses
bacanais a relação sexual era liberada e realizada ao ar livre, culminando com
o êxtase dos ritos, nessa mania divina. Eram momentos de orgia, que revelam a
ideia de dualidade onde a sanidade e a loucura são opostos que caminham juntos.
A última frase da música: e assim nos amaremos até sair o sol/E
encontrarás comigo o fogo do amor, vai
de encontro à necessidade das bacantes em participar desses cultos, frente à
repressão grega contra o sexo feminino, uma espécie de buscar nos cultos a
Dioniso o que a própria sociedade grega não as oferecia, um verdadeiro bálsamo,
visto que amar até o nascer do sol, era um dos principais objetivos do culto
dionisíaco. Naquele rito, certamente, todos encontrariam o fogo do amor, que
significava uma fuga às rígidas regras daquela sociedade do quinto século Antes
de Cristo.