No último dia 07 do mês em curso,
aconteceu no Salão do SESC/Araxá, a apresentação do espetáculo Trupizupe, O Maior Quengo do Nordeste,
sendo texto do paraibano Bráulio Tavares e direção de Edilson Alves, com elenco
da Companhia Soluar, também da Paraíba. Para chegar ao Amapá, por um lado, esta
companhia foi selecionada pelo Edital Arte na Bagagem de apoio à circulação
artística, do Governo da Paraíba, a partir da Secretaria de Estado da Cultura,
por outro, com a assistência do SESC/Araxá, instituição que promoveu a produção
local, oferecendo o suporte necessário para que o grupo pudesse se estabelecer aqui
no Amapá, responsabilidade que ficou sob a tutela do ilustre Professor e Educador
Cultural, Genário Dunas.
O texto de Bráulio Tavares nos remete à
estética da esperteza de tantos e quantos personagens que surgiram na Península
Ibérica, os quais, possuem sempre as mesmas características, mas, dependendo de
cada região, se apresentam sempre com cognomes diferentes. Trupizupe se encaixa
nesse contexto, tendo em vista que é um personagem, cujas características se
incluem: malandro, sedutor, de origem humilde, tolo, ingênuo, louco e sábio, são
heróis populares que sempre estão cheios de artimanhas. Personagens que possuem
em comum: a irreverência, a espontaneidade, a não submissão ao estabelecido, a
comicidade, e por vezes, a crueldade. Os ancestrais de Trupizupe são encontrados
em Pedro Malasartes, e ainda no personagem Nasrudin, famoso nas histórias
árabes.
A concepção cênica de Edilson Alves,
transformou o espetáculo numa osmose do drama, da música e da tragédia, respectivamente,
com a insistência de navegar tanto em águas calmas quanto em maremotos, levando-se
em consideração que, inicialmente a mise
en scène tenha sido elaborada com perspectiva para ser apresentada em
locais abertos, como as ruas, mas, que se adaptou definitivamente na caixa
cênica do palco à italiana. A sonoplastia ao vivo, que tem por base um
acordeom, envolvendo músicos e atores como um coro em uníssono, dá motivo
musical à montagem, e nos remete à participação efetiva, do coro, como
personagem, na tragédia grega, principalmente em Ésquilo.
Em vários contos escritos pelos irmãos
Grimm há muitas histórias de rapazes humildes, geralmente camponeses que sabem
tirar proveito de qualquer situação. Esses personagens centenários continuam se
multiplicando pelo mundo afora, e aqui no Brasil tem um que ficou muito famoso,
que é o João Grilo de O Auto da
Compadecida, de Ariano Suassuna. Trupizupe, como tantos outros, são nossos
personagens anti-heróis, repletos de falhas de caráter, preguiçosos, malandros
e espertos, e sempre são os protagonistas das histórias, mas que agem com
astúcia, criatividade e irreverência. O enredo enfoca as astúcias de Trupizupe,
que ao chegar em um reino, encontra um vice-rei corrupto, cria várias situações
com malícia, sutileza e talento, até conseguir seu objetivo maior que é o de se
casar com a princesa. Trupizupe o Maior
Quengo do Nordeste é um espetáculo
que eu recomendo.
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