Todas a tentativas de definição do teatro,
convergem para um ponto comum onde são eliminadas as dificuldades encontradas
em sua gênese e natureza: acredito que o teatro é um culto, ou seja, é a
comunhão entre um público com um espetáculo vivo e presencial. Quase unânime
também é a admissão de sua origem dentro dos rituais religiosos em homenagem ao
deus Dioniso. Deus da uva, do vinho e da fertilidade.
Cumpre aqui, entendermos religião em
sentido lato. Não há dúvidas de que é religiosa a origem do teatro, como também
o é a maior parte das expressões vitais dos grupos sociais. O que se diz como
conto (a história) pode ser o mito, a forma de contar (o espetáculo) pode ser o
último traço de um rito.
Se o ritual é predominantemente religioso
do ponto de vista de sua imagem histórica, é também, quanto tal e como
cerimônia, o mais eficaz portador de mensagens sociais e políticas. Daí ver-se
a prosa e a poesia em meios literários, mudar-se de grau em grau, como em
certos casos encontrados no Norte do Brasil, em forma de representação, para
isso, apoiando-se em estruturas paracerimoniais, como por exemplo, o boi de
Parintins, no Amazonas, ou o boi Pavulagem, em Belém do Pará.
Sendo tudo isso passível de uma
necessidade subjacente em camadas do povo a transmitir às demais, aquilo que
está intrinsecamente ligado à sua origem vital. Essas expressões são
contaminadas de momentos vitais do próprio cotidiano. Ressalte-se que a
atividade dramática do boi, documentalmente se desenvolveu de um modo teatral
rudimentar, recoberto por uma daquelas quase-cerimônias até atingir a densidade
contemporânea que apresenta na atualidade.
A aceitação do nascimento do teatro nos
rituais e cerimônias não cerceia o caminho a outras deduções que possam ser
extraídas do seu processo de aparecimento; há uma forma que se constrói e há os
seus reflexos no campo da psicologia coletiva, da psicologia individual e na
gestação de uma modalidade da arte. O instinto da imitação está
idiossincraticamente ligado ao desenvolvimento do homem, como também está
estritamente fundado nos primeiros momentos do teatro. É aí onde na verdade,
iremos encontrar seus principais fundamentos na individualidade humana.
Os aspectos de relação do teatro, assim
compreendido o ato de comunicação entre quem representa e quem assiste, é esse
comércio de emoção e inteligência, não um movimento psicológico que a si mesmo
inicie e em si mesmo termine.
Tudo o que se pensa do teatro, reconduz
àquela peculiaridade inicial: é por certo a forma de arte que maior compromisso
assume com o grupo humano em que está inserido, seja na sua organização menos
densa, seja no complexo das civilizações, onde segue incombatível a sua
condição de porta voz, de transmissor de mensagens e sinais, desde os
primórdios até a atualidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário