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segunda-feira, 31 de março de 2025

Teatro e Resistência

 


     O teatro que vinha sendo realizado no Brasil até o ano de 1964 do século XX, passa a enfrentar uma das piores crises de sua história em todos os níveis, juntamente com toda a população do país. A arte teatral, especificamente, é esmagada como um todo: artistas são presos, massacrados, torturados e exilados, em função da ordem, do progresso e do respeito ao sistema que se instalara exatamente a partir de 31 de março. Como se não bastasse, teatros são incendiados e artistas acusados de participarem de guerrilhas.

     Tudo começou quando o prédio da UNE – União Nacional de Estudantes, foi incendiado precisamente no dia 1º de abril daquele ano, destruindo por completo o auditório, que estava sendo transformado, naquela época, numa moderna sala de espetáculos. Portanto, o que seria o futuro teatro, ficou resumido a um monte de escombros. Nas suas chamas morria também o CPC – Centro Popular de Cultura, que foi imediatamente colocado, como a própria UNE, fora da lei.

     Em 1965, Dias Gomes, com a peça O Berço do Herói, teve a honra de ser censurado pelo próprio Governador do então, Estado da Guanabara, Sr. Carlos Lacerda, poucas horas antes da estreia. No início de junho, o Diretor Geral do Departamento da Polícia Federal, General Riograndino Kruel, mandava tirar de cartaz, Opinião e Liberdade Liberdade. A classe teatral reagiu, artistas e intelectuais redigiram telegrama de protesto, enviado ao Presidente Castelo Branco. E a resposta foi imediata. O Presidente telefonou à atriz Tônia Carrero, negando ter determinado medidas restritivas à liberdade de expressão, prometendo apurar as interdições das duas peças. No mesmo dia, Riograndino Kruel desmentia a proibição de Opinião e Liberdade Liberdade.

     Os jovens responsáveis pela revolução da linguagem cênica que tomaria corpo a partir de 1966, sentiram-se inconformados e impotentes diante do sistema repressivo que controlava cada vez mais radicalmente a vida do país, riscando do mapa qualquer noção de consulta popular. Com influências da revolução cultural que se preparava praticamente em todo o Ocidente, os espetáculos que iam surgindo a partir de então, já apresentavam algumas reformulações, por exemplo: o palco italiano, virtual espaço único e imutável há três séculos, é parcialmente abandonado em favor de vários tipos de espaços livres como: rua, arena, praças, entres outros, onde atores e público coexistiam sem fronteiras físicas. Por outro lado, em agosto de 1966, agentes do DOPS invadiam o Teatro Jovem, no Rio de Janeiro, impedindo a realização de um debate sobre a obra de Bertold Brecht, ao qual, aliás, estavam incumbidos de prendê-lo. Receberam a explicação de que o Sr. Brecht havia morrido há 10 anos.

     A somatória dos fatos ocorridos em 1966, fez com que os artistas e intelectuais deixassem de lado a caneta e a máquina de escrever. E foi assim, que trezentas pessoas abriram o ano de 1967 num ato público na ABI – Associação Brasileira de Imprensa, no lançamento da “Semana de Protesto à Censura”. Já os jornais do dia 23 de outubro deste mesmo ano, traziam declaração do General Façanha, então Diretor do Departamento de Polícia Federal, chamando Tônia Carrero de Vagabunda.

 

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