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segunda-feira, 6 de maio de 2024

TEATRO MUNICIPAL DE MACAPÁ

 

 

     Há praticamente, 29 anos que venho clamando por um teatro de bolso na cidade de Macapá, sobre esse tema, já escrevi vários artigos ao longo dessas três décadas. Soube da notícia de que existe um projeto de construção de um teatro, o qual será situado na convergência da Avenida FAB e Rua Cândido Mendes, no centro da cidade. Em relação a esse tema, primeiramente gostaria de sugerir aos agentes públicos da Prefeitura Municipal de Macapá, a construção de um teatro de bolso.

     Chamamos de teatro do bolso, pequenos edifícios teatrais com plateia que gira em torno de 80 a 120 lugares. Na realidade, uma das hipóteses para um novo impulso no teatro em Macapá gira em torno de, por um lado a construção de pelo menos um teatro de bolso com aproximadamente 120 lugares na plateia, e por outro lado, uma política cultural de administração desse espaço, que propicie o acesso aos mais diversificados grupos que trabalham com artes cênicas em nossa cidade. Uma política cultural que motive também a criação de novos grupos de teatro, principalmente nas escolas da rede estadual e municipal de ensino, visto que é principalmente na escola que surge o novo cidadão.

     Tais encaminhamentos viriam a dar cara nova às artes cênicas em nosso município, cativando os jovens, criando uma nova mentalidade e contribuindo para o desenvolvimento sócio cultural de nossa sociedade. Sem esquecer, que os órgãos de cultura em nível federal, estadual e municipal, deveriam contribuir com projetos voltados para o desenvolvimento das artes cênicas como um todo, em nosso Estado.

     Os espaços alternativos que já existem em nossa capital não suprem a necessidade dos nossos grupos de teatro. Por outro lado, apesar de estar inativo, o Teatro das Bacabeiras é um espaço para eventos profissionais ou para grupos, que, como o Língua de Trapo, com seu espetáculo Bar Caboclo, já conquistou um público efetivo, e até hoje é considerado o único espetáculo local que consegue lotar aquele edifício teatral, com capacidade para aproximadamente 710 pessoas sentadas.

     Um exemplo efetivo a essas questões resume-se na utilização do porão do Teatro das Bacabeiras, quando vários grupos já fizeram uso daquele espaço, como foi o caso do espetáculo Esperando Godot, nos primeiros anos do século XXI, com montagem da Companhia Supernova. Ao se falar em teatro de bolso, é importante registrar que, pelo seu espaço ser consideravelmente menor, diminui em muito as despesas em geral, como: limpeza e material de limpeza, com pessoal qualificado para administrar o edifício, com ar condicionado e iluminação, tendo em vista que com apenas uma lâmpada, um grupo pode ensaiar seus números e preparar seu espetáculo, o que muito reduz os custos financeiros e a manutenção do referido prédio, em si. Por outro lado, com quatro centrais de ar resolve-se a temperatura na plateia, com metade do público basta ligar apenas duas centrais, espaço lotado, passa a funcionar as quatro centrais. Além disso, uma plateia de 120 lugares, faz aglomerar ainda mais o público presente, dando um ar de participação mais ativa ao espetáculo.   

     É evidente que com o passar do tempo, administradores e agentes públicos, percebam essa necessidade de engrandecimento de nossa cultura. Portanto, observa-se que na atualidade, há uma luz no fim do túnel, visto que temos conhecimento da possível construção desse Teatro Municipal. Que seja bem-vinda esta notícia, e que realmente seja concretizada pela Prefeitura Municipal de Macapá. Evoé! Que Dioniso nos permita a construção desse edifício teatral!

 

 

 

 

segunda-feira, 29 de abril de 2024

EU E O TEATRO

 

 

     A primeira vez que subi ao palco foi ainda no ensino fundamental em 1968 no Colégio Nossa Senhora do Carmo na cidade de Nova Cruz – RN. Mas foi a partir dos meus 14 anos que em 1975 realmente ingressei nessa área da arte, já na cidade de Itabaiana – PB; desde então não mais consegui parar. Tenho uma vida completamente dedicada ao teatro. De 1975 até 1998 foi uma constante a minha participação no palco como ator, encenador, iluminador e sonoplasta entre outras atividades que sugerem o teatro ao artista amador. Representei em dezenas de palcos por esse Brasil afora. Nesses 23 anos dedicados exclusivamente ao palco foi grande o aprendizado prático e teórico.

     Mas a teoria mesmo começou a se revelar na minha mente a partir de 1980 quando ingressei no Curso de Licenciatura em Educação Artística na Universidade Federal da Paraíba, ocasião em que realizei a habilitação em Artes Cênicas. Outro fator preponderante foi minha participação no Grupo de Teatro Suspensório Produções Artísticas; grupo que além de montar espetáculos, fomentava estudos sequenciais sobre: teoria, técnica, filosofia, e objetivos do teatro.

     Em 1992, com a finalização do Mestrado em Serviço Social consegui desenvolver uma pesquisa que relacionei o trabalho e o lazer, ao estudar um grupo de teatro numa comunidade de uma pequena cidade litorânea da Paraíba. Foi em função desse estudo que em 2009 publiquei a obra “A Saga de Altimar Pimentel e o Teatro Experimental de Cabedelo”. Nesse período eu ainda continuava no palco como ator.

     Em 1994, fui trabalhar no Núcleo Pedagógico da Universidade Federal do Pará, em Belém. Nessa fase, dirigi juntamente com o professor Carlos Cartaxo a revista teatral “Para Esse Barco Não Pará”, com alunos daquela instituição de ensino. Em detrimento de minha aprovação para cursar doutorado é que realmente fui consequentemente obrigado a deixar o palco em 1999, e me dedicar exclusivamente à teoria do teatro. Ainda tive a oportunidade de em 1998, apresentar no Teatro das Bacabeiras o espetáculo “Brasil Caboclo”, pesquisa por mim realizada sobre a obra do poeta Zé da Luz. Este mesmo espetáculo também foi apresentado no Festival de Inverno da Universidade Federal do Paraná em 1997 que aconteceu na cidade de Antonina – PR.

     Ao longo das décadas, meu crescimento como profissional da área do teatro, se deu a partir da soma desses fatores. Um profissional é o resultado de sua história de vida, não apenas de um curso de graduação da Universidade. Hoje, me dedico completamente a escrever sobre teatro. Inclusive há poucos autores no Brasil que se volta a este labor. Entre outras obras, em 2011 publiquei a primeira literatura sobre teatro no Amapá intitulada “Artes Cênicas no Amapá – Teoria, Textos e Palcos”. Em 2013 publiquei: “Teatro no Amapá – Artistas e Seu Tempo”; “Arque com Arte – Cultura, Arte e Educação no Amapá” e “Curso de Teatro no Amapá: Concepções e Proposições para o Ensino Superior”; “Dramaturgia Amapaense”, em 2015. Em 2021, “História do Teatro do Amapá – Do Século XVIII à Década de 1940”, e por último, em 2023, publiquei a obra “Genealogia do Teatro”.  

 

segunda-feira, 22 de abril de 2024

BODE EXPIATÓRIO

 

 

   Na língua portuguesa, há dois verbos que são bastante utilizados pelas pessoas: o primeiro: “espiar”, que tem origem no gótico spaíhôn. É verbo transitivo direto, e, significa olhar, ver, perceber, observar algo ou alguém, de modo secreto, sem que ninguém perceba, com o propósito de conseguir informações. O mesmo que espionar. Espiar é um verbo muito conhecido e muito usado pela população. Um exemplo é: a mulher espiava o filho, enquanto o mesmo dormia.  O segundo: é “expiar”, com origem no latim expiare. É verbo transitivo direto e pronominal, e significa reparar, redimir, pagar, purgar, remir, resgatar, padecer, penar, ou seja, reparar um erro, uma falta; pagar um crime, etc. Exemplo: o homem expiou arduamente por seu erro.

     De acordo com as regras ortográficas, essas duas palavras, são homófonas, isto é, possuem a mesma pronúncia, mas com grafia e significados diferentes. Origina-se de homo, que significa, o mesmo; e fonia, que quer dizer, som. Embora algumas pessoas não queiram perceber, é de fundamental importância o estudo, aprendizado e o domínio da sua língua mater, como no caso aqui, da língua portuguesa. Mater, que é substantivo feminino, e que é aquela que desempenha o papel de mãe, de mulher que gerou, deu à luz e criou seus filhos, e foi a partir da junção de várias línguas, e principalmente do latim, que surgiu nossa língua portuguesa mãe.

     Interessante definir o que representa cada palavra da nossa língua, para entendermos prontamente, seus significados e suas objetividades na fala e na escrita. Trataremos aqui, do chamado ”bode expiatório”. Essa expressão teve origem no dia da expiação e era um ritual para purificação de toda nação de Israel. Expressão popular que é entendida hoje, como: para definir uma pessoa sobre a qual recaem as culpas alheias; é aquela pessoa chamada de laranja; por exemplo, quando alguém é acusado de um delito que não realizou. Temos o caso de Tiradentes, que foi o bode expiatório da Inconfidência Mineira.

     Para se redimir de seus pecados o judaísmo que era praticado pelo povo judeu, nos tempos antigos, época do Velho Testamento, identificou num animal, o bode, uma forma de expiar seus pecados. No deserto, definiam um lugar mais alto para colocar o referido animal, no qual, se reuniam em seu entorno e começavam um culto de expiação de seus pecados, tendo como ponto de partida aquele animal, que ali mesmo seria sacrificado. Esse fato, ficou consagrado na tradição judaica como o ritual do sacrifício do “bode expiatório”. Durante essa cerimônia, o bode era apedrejado, massacrado, cuspido pelo povo, finalizando com o sacrifício do mesmo.

     Este costume tinha um efeito reparador dos pecados cometidos pelo próprio povo judeu. Já no final desse ritual, o povo saía do local, com a consciência limpa, porque todos os seus erros e pecados tinham sido transferidos para o referido animal. Como em todos os povos antigos, esse ritual judaico representava simbolicamente, no imaginário do povo, que todos os seus crimes e pecados haviam sido transferidos para o bode expiatório e que Javé, o Deus Supremo estava satisfeito com o seu povo santo.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

UMA DÉCADA DO CURSO DE TEATRO

 

 

     Este início do mês de abril de 2024, se torna um período muito significativo, tanto para mim, como para os profissionais da área das artes cênicas do Amapá, tendo em vista que há 10 anos, recebi a primeira turma do Curso de Licenciatura em Teatro, exatamente no dia 09 de abril de 2014. Processo que se desenrolou entre duas décadas e que, no dia 12 de novembro de 2013, depois de dois projetos que eu já havia encaminhado à administração da UNIFAP, (um, em 1996 e outro em 2001), ter sido aprovado pelo Conselho Superior da Universidade Federal do Amapá. Já em dezembro de 2014, assumi a Coordenação do referido curso. Iniciei apenas com a cara e a coragem. E fui em busca, de espaço físico para a Coordenação, que se instalou em dois pequenos ambientes cedidos pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais. Determinou-se também a sala de aula para receber a primeira turma.

     Na ânsia de ver o curso criado, e para juntarmos nossas forças, resolvi convidar para uma reunião, o Presidente do Conselho Estadual de Cultura do Amapá, quando na ocasião, expressei a necessidade da participação da classe artística neste processo. Em seguida nos reunimos com a classe e ficou definido a realização de um cortejo que sairia do Marco Zero, com destino à sala do Conselho Superior da UNIFAP. Expressei também, a necessidade de que cada grupo de teatro deveria redigir um documento em apoio à criação do Curso de Teatro. No dia da aprovação a classe entregou um calhamaço de papel ao Presidente do Conselho. E, assim, as pessoas de teatro, invadiram o Conselho Superior, juntando-se a essa luta para a implantação do curso. Desta forma, pressionando o Conselho para a aprovação imediata do primeiro Curso Superior de Teatro do Amapá.

     Após a aprovação, pelo Conselho Superior da UNIFAP, da criação do curso de teatro, a classe saiu em grande passeata pelas ruas da instituição, festejando, celebrando a Dioniso, como um verdadeiro canto ditirâmbico. Foi de grande importância essa participação da classe artística e teatral, na luta pela implantação do Curso de Teatro, que nesses dez anos, colocou no mercado de trabalho, profissionais competentes para desenvolveram suas funções na sociedade amapaense. No Curso de Licenciatura em Teatro o aluno desenvolve a prática de lecionar aulas de teatro, como também, interpretar, vivenciando a experiência do fazer teatral, aprofundando-se nas especificidades de sua escolha. A base deste curso está alicerçada nesta formação e complementada pelos fundamentos sócio-político-pedagógico que norteiam a formação pedagógica dos cursos de Licenciatura.

     Foram sete anos ininterruptos, os quais, trabalhei diuturnamente, iniciando-se em 2010, com a retomada, análise e atualização dos dois projetos anteriores. Em seguida, o acompanhamento do processo por todas as instâncias da instituição, sempre respondendo e esclarecendo as dúvidas do relator do referido processo. Após a aprovação, tudo começou do zero; em 19 de dezembro foi publicada minha portaria como Coordenador. Enfaticamente, parti para a organização física da Coordenação do Curso e a preparação para receber a primeira turma, que iniciou no dia 09 de abril de 2014. Esta primeira fase do Curso de Teatro, foi um ciclo que se fechou, primeiro com a contratação de 7 professores em dezembro de 2015, e em seguida, quando em abril do ano de 2017, entreguei definitivamente, a coordenação do curso à nova geração de professores, completando assim, 7 anos de trabalhos ininterruptos, para que o curso tomasse novo impulso, o que aconteceu com a chegada dos novos professores.

 

terça-feira, 9 de abril de 2024

VEGANO - SER OU NÃO SER

 

                              

O artigo desta semana, foi escrito por minha aluna, Hozana de Araújo Alves, à qual, participa do projeto de extensão que estou à frente como Coordenador, intitulado: “Socializando a Cultura”. Projeto este, ligado ao Curso de Teatro da UNIFAP, o qual, tem o objetivo de motivar nossos discentes para o ato da escrita. Portanto, segue as palavras de uma futura pesquisadora:

A moda do momento é definida pelo padrão alimentar que as pessoas adotam e influenciam. Mas, paramos para refletir como isso poderá afetar nossas escolhas. Durante uma entrevista ao programa da Eliana, a apresentadora Xuxa se pronunciou dizendo que: “muitas pessoas acham que ser vegano é só comer mato, não, a gente só tira o defunto do prato”, a frase no primeiro momento passa despercebida sem muita importância, mas ao avaliar atentamente percebemos que possui uma carga ideológica no lexical: “Defunto” – que assume na frase outra coisa, agora destinado à carne em decomposição, que faz mal à saúde humana. Nesse sentido, tem significado próprio, de outro modo, carregando assim uma mudança de significado e provocando efeitos moventes na significação. Ademais, nada é por acaso, o texto é formado por um conjunto de nós, isto é, este discurso representa um grupo de pessoas, neste caso, o grupo dos Veganos, do qual, Xuxa faz parte.

Para a comunidade Vegana os animais têm as mesmas condições e direitos que os seres humanos, bem como eles possuem uma interação e conexão direta com eles e tudo que está a sua volta, ou seja, comer outro ser vivente seria um atentado à vida, por isso, da negação de se alimentar de produtos de origem animal. Essa filosofia de vida é amplamente aderida e divulgada pelos Veganos. E ir contra esta prática ou criticá-la é para eles uma ofensa, pois eles a creditam que há uma conexão entre os seres.

Aliás, os Veganos são conhecidos por não consumirem nenhum produto de origem animal, e isso incluem roupas, cosméticos, alimentos, etc., eles praticam uma consciência naturalista utilizando apenas alimentos de origem vegetal: legumes, cereais, frutas, etc. Ou seja, de acordo com a sociedade Vegana: “os veganos são contra o sofrimento de animais para a fabricação de cosméticos, roupas, qualquer tipo de produto. Também não apoiam atividades de lazer onde animais são aprisionados para entretenimento do público”. É por isso que alguns discursos desse grupo são carregados de radicalismo, bem como de aspectos ideológicos e discursivos, o qual produzem discursos enunciados que inegavelmente são defendidos e divulgados amplamente nos meios de comunicação os quais estes circulam.

Por outro lado, contrários a este pensamento existem os não-Veganos (pessoas que consome as carnes e seus derivados) e que defendem o consumo de aves, peixes, camarões, crustáceos, etc., até porque são fontes de proteínas, e ao retirá-las da alimentação poderá causar danos graves à saúde humana. Os nutricionistas e os profissionais da saúde aconselham sempre a procurar orientação profissional, já que as carnes são fontes de vitaminas, a exemplo à do complexo B12. E ter uma dieta Vegana custa muito caro, ainda mais no Brasil com diferentes rendas, classes, sem um estruturalismo financeiro e um aparato médico fica inviável manter uma postura tão saudável como a dos Veganos.

Os Veganos têm um modo de pensar e de agir em relação aos animais, principalmente quando o assunto é alimentação e consumo saudável excluindo assim as carnes de origem carnívora. Pois os Veganos possuem uma relação muito próxima com os animais, para eles a vida interage - existe uma conexão com todos os seres vivos - todos são nesse sentido, a mesma coisa. Mas, tem-se a pensar que se tratando de Brasil ter a cultura da alimentação saudável fica difícil, pois não temos os mesmos padrões sociais para todos. Então, ser ou não ser vegano parte inicialmente da condição financeira e social de se manter essa prática.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

DIA INTERNACIONAL DO TEATRO

 


     Na última quarta-feira, 27 de março, foi comemorado o dia internacional do teatro. Em relação a isso, resolvi trazer à tona, esse tema tão importante para nossa cultura, já que temos atualmente no Amapá, vários artistas profissionais do teatro, principalmente, em função da implantação do Curso de Licenciatura em Teatro da UNIFAP, que iniciou sua primeira turma no ano de 2014. Ao todo, são sete turmas que já concluíram o referido curso, sendo um total aproximado de 330 profissionais da área, levando-se em consideração que os egressos seguem caminhos diferentes: alguns encaminham-se para a carreira acadêmica, enquanto outros decidem pela carreira artística. 

     Todos sabem que o teatro é uma arte exclusivamente coletiva, visto que é resultado da união de várias artes, como: dança, música, canto, fala, movimento, literatura, artes visuais, arquitetura, circo, mímica, pantomima, cinema, entre outras. Todavia, na manifestação teatral, encontramos várias formas de expressão: expressão gestual; expressão verbal; expressão visual; expressão musical e expressão escrita. Mas há uma inquietação essencial, no que diz respeito aos principais elementos que constituíram a base fundamental do teatro grego.

     Em relação a essa questão, fica claro que esse alicerce remoto gira em torno de duas artes distintas: a música e a dança; como também poderia ter sido a fala, levando-se em consideração a atitude de Téspis, quando, pela primeira vez, falou no Culto a Dioniso, em primeira pessoa, a seguinte frase: “- Eu sou Dioniso”. Além de ser considerado o primeiro ator, com esse gesto e esse ato, ele também é considerado como o impulsionador da literatura ocidental. No entanto, há muitas controvérsias...!  Enquanto alguns autores defendem a dança, como princípio fundamental da origem do teatro, outros defendem a música. Sabe-se que muitos povos primitivos já praticavam a dança em suas manifestações comemorativas e religiosas, em seu livro “O Teatro Grego”, António Freire afirma que: “As primeiras sociedades primitivas acreditavam que a dança imitativa influenciava os fatos necessários à sobrevivência através de poderes sobrenaturais, por isso alguns historiadores assinalam a origem do teatro a partir desse ritual. ”

     Etimologicamente o termo teatro deriva do latim theatrum e do grego theatron, que dá ao vocábulo o sentido de miradouro, praticamente, lugar de onde se vê, lugar para olhar, de theasthai, “olhar”, mais – tron, sufixo que denota “lugar”. Entendendo-se dessa maneira, que o sentido primitivo da palavra “teatro”, estava relacionado estritamente com a ideia da visão, lugar de contemplação. Esse verbete, que significava o prédio onde são realizados espetáculos, posteriormente, se tornou mais amplo e a ter maior alcance, com vários sentidos conotativos, designando peças, produção, preparação de uma peça teatral em geral, edifício, entre outros.

     Sem embargo, esse teatro do qual conhecemos na atualidade, originou-se basicamente de três festividades gregas, às quais, apresentavam características especificas com seus cultos e seus mistérios: a) dos mistérios de Delos; b) dos mistérios de Elêusis; e c) dos mistérios do culto ao deus Dioniso. Tanto em Delos quanto em Elêusis, sempre havia comemorações e festividades dedicadas a Dioniso. Todavia, acredita-se que, segundo estudos históricos e antropológicos já realizados, o culto ao deus Dioniso, é a mais provável hipótese e o principal vetor do surgimento do teatro. 

     Em função dessas atividades teatrais persistirem até nossos dias, foi que em 1961, o Instituto Internacional do Teatro da UNESCO, órgão das Nações Unidas, voltado para a educação, ciência e cultura, resolveu criar uma data dedicada às atividades culturais ligadas à representação, durante o seu IX Congresso Mundial, em Viena, Áustria. Portanto, em função da inauguração do Teatro das Nações, em Paris, França, em 27 de março de 1962, tem sido celebrado o Dia Internacional do Teatro. A data 27 de março, assinala também a inauguração das temporadas internacionais no referido teatro.

 

segunda-feira, 25 de março de 2024

45 ANOS DE UMA CRUZ PARA JESUS

 

 

     Com uma vida dedicada ao teatro do Amapá, o ator e diretor de teatro Amadeu Lobato merece meus cumprimentos e minhas felicitações, em função de sua persistência e dedicação exclusiva à sua tradicional montagem do espetáculo “Uma Cruz para Jesus”, que neste ano de 2024, inusitadamente, está completando seus 45 anos em cartaz. É bom lembrar que, no Brasil, são poucos os grupos de teatro que permanecem tanto tempo em cartaz, como exemplo, José Pimentel que passou mais de 40 anos representando a Paixão de Cristo, em Nova Jerusalém, Pernambuco.

     A primeira apresentação que aconteceu no ano de 1979, teve apoio da Igreja Católica, e consequentemente, nesses quarenta e cinco anos à frente, como diretor da Companhia Teatro de Arena, Amadeu Lobato transformou seu trabalho num espetáculo ontológico e clássico do Amapá. Uma peça em que não se paga ingresso, onde o acesso é livre para o público em geral, sem discriminação de cor, etnia, religião e classe social. Todos podem assistir ao referido espetáculo, e para isso, basta se dirigir na sexta-feira santa, ao teatro ao ar livre que existe na lateral norte da Fortaleza de São José de Macapá, no centro da cidade. 

      Para aqueles que acompanham essa trajetória, basta imaginar que são 45 anos de resistência em relação ao fazer teatral nas terras tucujus. Amadeu Lobato é nosso grande Mestre do teatro amapaense e transformou seu espetáculo numa considerável escola de teatro ao ar livre, visto que significativa parte dos artistas do Amapá, pela primeira vez, subiram ao palco, nesta escola. Também não é para menos, sua peça coloca em cena, todos os anos, mais de cem atores e atrizes, concentrados num espetáculo de um pouco mais de uma hora, na área externa da Fortaleza.

     Uma Cruz para Jesus significa a vitalidade e a persistência do teatro amapaense. Hoje não se pode falar desta peça sem citar o nome de Amadeu Lobato. Ao longo de quatro décadas houve um hibridismo entre o criador (Amadeu) e a criatura (que é seu espetáculo).  Por isso, esse trabalho e essa dedicação do Amadeu Lobato, já é referência tanto na sociedade amapaense quanto dentro da academia voltada para estudos culturais.

         Nesses últimos 29 anos tenho acompanhado de perto a obra desse avultado Mestre, e foram muitas as vezes que seu trabalho foi montado com garra, coragem e decisão, e o mais importante é que o público sempre esteve lá, literalmente de pé, vendo a ficção e aplaudindo na realidade, os passos de Jesus Cristo Salvador. Amadeu Lobato é um sujeito de fé, com muita determinação, objetivo e metódico, não fosse essas qualidades, seu espetáculo já não mais existiria.

     Seguramente posso citar aqui algumas influências de “Uma Cruz para Jesus” nestes 45 anos de atividades ininterruptas. No entanto, é em função deste espetáculo que se disseminou vários outros grupos que passaram a apresentar seus espetáculos sobre a vida, paixão e morte de cristo. Bairros como: Perpétuo Socorro, Pacoval, Novo Horizonte, entre outros também fazem apresentação sobre a vida de Cristo. Em função de todo esse trabalho, por toda sua contribuição para o teatro do Amapá, Amadeu Lobato merece nosso respeito. Parabéns meu amigo, parabéns por sua resiliência e persistência nesses últimos 45 anos de apresentação de “Uma Cruz para Jesus”.  O teatro do Amapá agradece sua dedicação e espírito dionisíaco.