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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A BANDA: Nosso Grandioso Culto a Dionísio



                                        
     Com o advento do Sambódromo nosso carnaval ficou concretamente dividido. Se por um lado, as Escolas de Samba tiveram acesso e o privilégio de garantirem suas vagas para se apresentarem neste novo teatro, que foi construído especialmente para elas; os blocos por sua vez ficaram esquecidos como verdadeiros meninos de rua. Como em toda regra há uma exceção foram criados novos blocos pré-organizados com vendas de abadás e tudo o mais para que pudessem também ter acesso ao grande teatro do sambódromo.
     A partir de então, os olhares dos órgãos de cultura passaram a investir pesado no que diz respeito à questão financeira. Passaram a ver e contemplar apenas aquele grande teatro do desfile das escolas de samba, no sambódromo. Até hoje o carnaval de rua de Macapá ficou esquecido. Cadê o carnaval de Rua de Macapá? Porque não se organiza nosso carnaval de rua? Desde a inauguração do sambódromo cadê as secretarias de cultura do Estado e do Município?
     Felizmente ainda há um bloco sobrevivente que insiste e persiste fazendo todos os anos o mesmo percurso nas ruas da cidade, sem titubear. O Bloco de Rua “A Banda” realmente é quem faz a diferença no carnaval de Macapá. Um fenômeno interessante é que a cada ano que se passa “A Banda” cresce assustadoramente. Há anos que seu percurso tradicionalmente sempre é o mesmo. Desta forma, conhecida como bloco dos sujos, mantém viva a chama e a esperança de que um dia os órgãos de cultura organizem o carnaval de rua da nossa cidade.
     Já existe até o preconceito de que o carnaval de Rua de Macapá só acontece na terça feira de carnaval. Porque nossos gestores não aproveitam o itinerário que a Banda faz e organizam os três dias de carnaval de Rua de Macapá? Porque os blocos que desfilam no sambódromo não desfilam nas ruas de Macapá? Contando com financiamento público porque não obrigam as escolas de samba desfilarem nas ruas da cidade? Todo mundo sabe que a tarde da terça feira já é da “Banda”, mas, o que é que falta para fazer com que os blocos e as escolas de samba desfilem, além do sambódromo, no domingo ou na segunda feira de carnaval. Isto é possível basta um estudo minucioso da Secretaria de Cultura do Estado e do Município.
     Enfim, o bloco “A BANDA” deveria ser reverenciado visto que desde a década de 1960 vem abrilhantando o carnaval de rua de Macapá. Esse bloco de sujos é um verdadeiro culto a Dionísio, a procissão dionisíaca, onde todos os participantes se sentem à vontade para saudar a vida, o sexo e a fertilidade. E Viva Dionísio, deus da uva do vinho e do teatro.

O ATOR




     Na Grécia, o verdadeiro oficiante do culto a Dionísio recebia honras públicas. Em Roma, o comediante era escravo e certos gêneros de origem grega que se cultivava ao lado da dramaturgia erudita eram desempenhados por mulheres prostitutas. A Idade Média reformulou a questão do ator ao extrair um esboço do drama da liturgia cristã. Sacerdotes e religiosos concorreram para o espetáculo medieval, semelhante para eles a um ato de fé.
     No século XVII, não obstante recebesse subsídios de Luis XIV e fosse uma das glórias reconhecidas da França, Molière não teve sepultura cristã, porque se dedicava à infamante profissão de ator. Após ser ultrapassado e aceito esse preconceito social como relaxamento da fé religiosa, o ator alçou-se ao posto de ídolo, no qual é possível admirá-lo nos dias atuais. Nesse caso, muitos passaram a mitos coletivos como é o caso de Sarah Bernhardt.
     Há mais de setenta anos atrás o preconceito social assemelhava a condição de atriz à de prostituta. Por outro lado, no século XIX surgiram os monstros sagrados, que eram astros, vedetes, atores e atrizes, nessa época ficaram famosas as “primas dona”. Foi um período em que era a personalidade singular e excepcional de um determinado intérprete que se impunha. Alguns que ficaram mais conhecidos; Talma, Sarah Bernhardt, Julian Barret entre outros.
     O ator ou atriz considerada “monstro sagrado” era quem orientava e norteava todo o espetáculo. Era um tipo de intérprete que desafiava todas as normas. Ator mago cuja interpretação se assemelhava à intervenção de um sumo sacerdote. Era um tipo de intérprete que transmitia a sensação de estar além de qualquer técnica.
     Ao longo da história do Brasil, houve diversas iniciativas de abordagem ou utilização do teatro no processo educativo, bem como de formação educacional de pessoas voltadas para a arte teatral. No período da colonização no Brasil até o século XVIII a Companhia de Jesus desenvolveu em seus colégios uma sólida estrutura de uso escolar religioso do teatro, comparável àquela praticada na Europa na Idade Média.      A multiplicação dessas escolas especializadas na arte de representar, principalmente aquelas de cunho universitário voltadas para a formação profissional, vem completando a tarefa de valorizar o intérprete.
     O brasileiro João Caetano foi um dos nossos “monstros sagrados”. Além de ator montou na cidade do Rio de Janeiro, uma escola com recursos próprios voltada para formar atores. De lá para cá, muitas escolas de arte dramática foram instaladas em todos os continentes.