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quarta-feira, 30 de maio de 2012

ARTE E CULTURA NOS JORNAIS DO AMAPÁ


                              
     Todo jornal impresso que se preze possui seu caderno voltado para arte e cultura de sua cidade e região. Por mais que pertença a empresas privadas, os jornais fazem parte do dia a dia e do cotidiano de uma cidade, representando e registrando o que de importante vem acontecendo naquele espaço urbano. Isto acontece por várias razões; primeiro por ser acessível ao grande público; segundo pelo seu valor que é bastante popular, ficando entre um e três reais e cinquenta centavos; terceiro por ter longo alcance de público.
     Como é de conhecimento de quem trabalha na área da arte e cultura, em nossa cidade há atividades artísticas todos os dias, todo final de semana, durante todos os meses do ano. Mas, o que mais me intriga é que a presença desses eventos ainda é muito tímida em nossos meios de comunicação, principalmente nos jornais impressos local. Não há sequer uma agenda semanal (em nenhum de nossos jornais) para que o público e sociedade possam escolher o que apreciar.
      Por que nossos jornais não enfocam com mais veemência e expressividade o que acontece em nossa cidade na área da arte e cultura? O que é que falta em nossos jornalistas e editores para que o registro de nossa arte e cultura seja mais efetiva e tenha mais espaço em nossos jornais impressos.?
     Talvez não se perceba, mas na maioria dos jornais aqui publicados, me parece que não há essa preocupação de colocar em evidência o que se produz em nossa cidade, região e Estado, em relação às informações sobre a produção artística e cultural. Por que afirmo isto? Numa análise panorâmica observa-se em especial nas páginas de nossos jornais, principalmente na edição do domingo, uma sequencia lógica de informações, geralmente no que se refere à presença do cinema. Por quê?
     Para se ter uma idéia do que se trata, resolvemos fazer uma breve análise de quatro jornais que circulam em nossa cidade. O foco voltou-se para especificamente, jornais que circularam no domingo, 27 de maio de 2012. Nossa atenção ficou centrada nos cadernos ou páginas dedicadas à arte e cultura. Os quatro jornais analisados foram: “Jornal do Dia”; “Diário do Amapá”; “A Gazeta” e “A Tribuna Amapaense”.
     O “Jornal do Dia”, um dos mais antigos da cidade, que há alguns anos possuía o “Caderno Inteligente” (do qual fui colaborador), hoje dedica um espaço à cultura e arte no “Caderno C” que é publicado aos domingos. A primeira página desse caderno vem com matérias relativas a “Esportes”, enfocando primeiramente notícias da seleção brasileira e da Fórmula I falando da participação do brasileiro Felipe Massa. A página C2 do mesmo caderno continua, por um lado, com notícias do futebol nacional e internacional, por outro, ausentando-se de falar do futebol local. A página C3 dedica-se a “Atualidades” e discute notícias sobre problemas de saúde. Já a página C4 que é dedicada à “Diversão & Cultura” fala de questões universais e nacionais como “Enrique Iglesias”; a “novela Cheia de Charme”; atriz “Debora Secco”, etc. O horóscopo também está presente nesta página e ainda o resumo das telenovelas. Aqui, infelizmente não há nenhuma notícia que trate de acontecimentos artísticos em nossa cidade, a não ser propaganda paga do Cine Imperator. Percebe-se então que não há lugar nesse caderno para revelar o que se produz artisticamente neste nesta cidade, neste Estado.
     Vamos encontrar algo a respeito do tema que aqui trato na “Revista Nossa Gente”  nº 39 – Ano I, de 27 de maio de 2012, que acompanha o referido jornal. Nela, pode-se encontrar dois artigos sobre nossa cultura: o primeiro na página 5 intitulado “Curiaú: um paraíso que deve ser conservado”; e o segundo, na página 14 “Tacacá da Dona Alzenora -  tradição macapaense”, sendo os dois assinados pela colunista Graziela Miranda.  
     O segundo jornal é  “O Diário do Amapá” que há vários anos possui o suplemento “Nota Dez” e no domingo 27.05.2012, trouxe em grande estampa a seguinte matéria: “Filme amapaense “Somos Parteiras” foi lançado ontem, em encontro internacional”. O mais interessante é que apesar de enfocar notícia sobre a cultura do nosso Estado, inclusive com imensa foto, ainda é pouco para um caderno que possui oito páginas e apenas a primeira é que traz notícias do lugar. A que se dedicam as outras páginas desse jornal, vejamos: página 2, “Diário Viver Bem” com a matéria: “Pesquisa; homens preferem morenas a loiras” e “Vidente ensina a lidar com altos e baixos da paixão”; pagina 3, “Diário TV & Gente” página dedicada à cultura nacional e internacional que enfoca personagens da TV e ainda programação de telenovelas. Página 4, “Diário Saúde” à qual discute questões relacionadas à saúde, sendo uma das matérias: “Deixar bebê chorando até dormir aumenta o nível de estresse”.  Página 5, “Diário Mulher” com artigo “Curvatura no lábio pode indicar capacidade de atingir prazer sozinha”, esta página é totalmente dedicada à mulher. A página 6 é voltada para passatempo e horóscopo e a de número 7 é dedicada ao turismo, já a página 8 é coluna social com fotos de gente da sociedade local, assinada por Ziulana Melo.
     O “Jornal A Gazeta” com seu “Caderno Camarim” busca socializar nossa produção artística e cultural, mas como os anteriores, também exagera na divulgação de notícias de alhures, esquecendo de certa forma o que se produz artisticamente em nossa cidade. O “Caderno Camarim” do dia 27.05.2012 dedica a primeira e a quinta página ao Grupo Rolling Stonnes que completa 50 anos de carreira. Na página 2, há a coluna “Arque com Arte” de minha autoria, que vem socializando a cultura e principalmente o teatro no Amapá. D’outra forma, a matéria “MINC e ANCINE anunciam novos investimentos”, encontra-se na página 3 que é notícia nacional.  A página 4 com “Calçada da Fama” fala de pessoas famosas como, por exemplo, “Elton John”; a página 6 fala do cinema mundial com o tema “A Batalha de Branca de Neve”. Os cinemas Imperator; Cine Macapá e Cine Santana, (possíveis matérias pagas) se vê na página 7 juntamente com o horóscopo, e na última página a coluna social com fotografias de Patrick Melo.
     O quarto e último jornal “A tribuna do Amapaense” possui o “Caderno 3 – Cidades e Negócios” que é o que mais se adéqua ao tema que se pretende aqui discutir. Com um total de oito páginas; é na de número 3 (dedicada à cultura) que se encontra artigo sobre editais do MINC assinado por Araciara Macedo que é colaboradora do referido jornal. Fala também de festivais que há no Brasil na área da música. Da cultura do Amapá mostra na página 2 um artigo sobre a senhora Maria Cipriano que é sapateira no Mercado Central em Macapá, boa reportagem de Babi Cantuária. A página 4 também discute a cultura a partir do artigo “Cultura; está na hora da mudança” da colunista Araciara Macedo. A página 5 enfoca lançamento de livro na Fortaleza de São José de Macapá, relatando fato que já havia acontecido anteriormente. A página 7 apresenta artigos diversos, sendo a página 8 voltada para o meio social a partir de fotografias da colunista Roberta Gato.
     Dos quatro jornais aqui citados publicados no dia 27 de maio de 2012, apresentaremos uma breve conclusão: das quatro páginas do “Caderno C” do “Jornal do Dia” nenhuma delas enfoca a arte e cultura no Amapá, a não ser a propaganda do Cinema Imperator, que faz parte do lazer dos amapaenses; das oito páginas do Suplemento “Nota Dez” do “Diário do Amapá” apenas a primeira enfoca questões relativas à nossa cultura, salvo a coluna social de Ziulana Melo; das oito páginas do Suplemento “Camarim do Jornal A Gazeta” apenas a coluna “Arque com Arte” de minha autoria socializa a arte no Amapá, principalmente o teatro, somando-se ainda a propaganda do Cine Imperator, Cine Macapá e Cine Santana e a coluna social com fotos de Patrick Melo. O Caderno “Cidades e Negócios” com oito folhas do jornal “A Tribuna Amapaense” foi que publicou mais artigos ligados à nossa cultura. Matérias e artigos que embora estejam relacionados com a questão da economia revelam o dia a dia da nossa sociedade, como é o caso.
     O que gostaríamos de discutir aqui neste artigo é: como direcionar uma página de arte e cultura para que a população e nossos diletantes visitantes, turistas ou não, possam, abrir em um de nossos jornais impressos, um caderno dedicado à cultura e possam localizar e escolher locais para visitar ou para apreciar no âmbito da capital do Estado do Amapá?
     Não queremos aqui colocar em questão o valor das outras matérias ou artigos, de forma alguma! Mas, sim pensar a necessidade de se dedicar mais espaços para que nossa produção artística apareça em nossos jornais. Urge essa necessidade, tanto para os que aqui habitam quanto para os que por aqui passam. Por exemplo, a cada final de semana não se sabe o que vai acontecer na área artística e cultural em nossa cidade.
     O que seria interessante para que tivéssemos novos rumos em relação ao tema em tela? Uma agenda artística e cultural permanente que fosse publicada pelos menos as sextas feira e aos domingos. Espetáculos que estivessem em cartaz no teatro; a programação dos cinemas, etc. Além dos acontecimentos artísticos e culturais também deveria constar nesta agenda a relação dos museus com suas respectivas horas de visitas.
     Há que se colocar notícias nacionais e internacionais em nossos jornais? Claro que sim! Isto é um fato. Mas há também que se prezar por mais espaços para socializar nossa arte e cultura. Desta forma, podemos deixar para a história este presente registrado nos jornais, que no futuro será passado e poderá ser estudado por muitos pesquisadores.
    

domingo, 27 de maio de 2012

TEATRO NO AMAPÁ NA DÉCADA DE 1970




     Na década de 1970 ainda era evidente o teatro nas escolas e nas igrejas; percebendo igreja aqui num sentido amplo, envolvendo várias religiões, visto que tanto o catolicismo como o protestantismo praticavam essa atividade artística no âmbito dos seus espaços físicos e dos seus limites canônicos.
     A Escola Paroquial São José fomentava aulas de teatro que eram ministradas pelos padres e freiras. Apesar de direcionarem espetáculos com temas religiosos, esses se tornaram os principais professores de arte no Amapá daquele período. Essas atividades aconteciam geralmente no curso primário e ginasial.
     Havia ainda o “Grupo de Teatro do Colégio Amapaense” e o “Grupo de Teatro do Santina Rioli”. Na paróquia Jesus de Nazaré havia o “Grupo de Teatro Avatar”. Em sua maioria e com influência religiosa esses grupos se dedicavam a montar espetáculos religiosos com temas sobre “Natal”, “Jesus Cristo”, “Dia das Mães” e outras datas comemorativas.
O MOBRAL
     O MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização em muito contribuiu para o desenvolvimento do teatro no Estado do Amapá. Além da motivação, trazia para o Cabo Norte muitos cursos e oficinas na área das artes cênicas. Coronel Ribeiro, defensor ferrenho da educação e das artes, era Presidente do MOBRAL e trazia vários professores de outros estados para ministrar cursos e oficinas de teatro como; impostação de voz, interpretação, direção teatral entre outros cursos. Marizete Ramos veio de Belém como também o diretor Luiz Otávio Barata para ministrar curso para nossos atores.
     Por outro lado, também havia alguns professores aqui no Estado do Amapá que também tinham conhecimento e condições de ministrar oficinas de teatro, como a atriz Creuza Bordalo, Padre Mino e o próprio Coronel Ribeiro. O atual “Grupo Língua de Trapo” que vem há mais de 20 anos apresentando a peça “Bar Caboclo” é resultado de uma dessas oficinas. É um grupo que surgiu praticamente dentro e em função do MOBRAL. Na década de 1970, o grupo que mais se destacou foi o “Grupo Telhado” que, além de participar de várias oficinas de teatro, assinou contrato com o MOBRAL para apresentar seus espetáculos em municípios e distritos. “A Mulher que casou 18 Vezes” foi uma das peças mais badaladas da época. Havia em Macapá nesse período os seguintes espaços que serviam para representações teatrais: O Cine Teatro João XXIII que pertencia à paróquia de São José; o auditório da Rádio Educadora de Macapá; o Cine Teatro Territorial e o Cine teatro que pertencia à paróquia do bairro do Trem.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

MANOEL BISPO




          Manoel Bispo Corrêa nasceu em Belém do Pará em 15 de fevereiro de 1945, filho de Paulo Roberto Corrêa e Maria Bispo Corrêa. Por uma necessidade de sua família chegou a Macapá ainda criança. Em Macapá estudou em vários colégios, entre eles: Alexandre Vaz Tavares; Azevedo Costa e Colégio Amapaense. Fez parte do coral da Escola Walkíria Lima. Escreveu e pintou suas primeiras obras já aos dezesseis anos de idade. Na ânsia de aprofundar seus estudos, conseguiu se matricular na Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro.
     É um artista plástico conhecido e reconhecido no Amapá. Além de se dedicar à pintura é poeta, professor, compositor, contista e escritor. Em 2006 lançou a obra de poesias intitulada “Intátil”. Em 2010 participou da “Coletânea de Poetas, Contistas e Cronistas do Meio do Mundo”. Apesar de ter migrado do Pará, há mais de sessenta anos reside no Amapá. Em função disso se considera cidadão amapaense e se dedica a esta terra.
     Quando ainda criança Manoel Bispo teve influências de vários setores, inicialmente foram as figuras coloridas que chamaram sua atenção. Em seguida vieram as imagens das capas de revistas como também gravuras de calendários. Ao longo de sua trajetória artística ele foi se envolvendo aos poucos com essas imagens. Passou também a observar e estudar diversas fotografias e quadros de artistas famosos. Toda essa experiência o envolveu para que voltasse seus olhares para a arte como artista plástico com temas voltados para a Amazônia com influências surrealistas.
     Como poeta busca aprimorar sua arte a cada passo. É um persistente pesquisador da palavra. Sobre o artista Manoel Bispo, Paulo Tarso afirma que: “seus poemas são escritos numa linguagem que primam pela objetividade e as imagens demonstram seu conhecimento da música e das artes plásticas”
     Acrescentem-se ainda os inumeráveis exercícios artísticos até chegar ao trabalho estético que conseguiu concretizar ao longo de sua carreira com uma vasta obra. Nosso artista, confessa que não enfrentou muitas dificuldades em trilhar na área das artes visuais, mas enfoca que em sua época não havia lojas especializadas na cidade de Macapá, observando que era necessário solicitá-las em outras cidades como, por exemplo, Belém do Pará. Para ele: “- Hoje existe vários revendedores dos mais diversificados fabricantes de tintas, pincéis, telas e solventes entre outros materiais”.      Seu trabalho mais significativo foi a tela “Espécie de Compulsão”. Do artista Manoel Bispo, uma frase para os iniciantes: “ – A eles apenas o estímulo que energiza a alma daqueles que escolhem a arte para viver”.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

BREVE HISTÓRICO DO TEATRO NO AMAPÁ III




     Em relação ao espetáculo “Uma Cruz para Jesus” poderíamos dizer que há 33 anos que vem sendo apresentado na parte externa da Fortaleza de São José de Macapá. É um espetáculo em que o público amapaense tem a oportunidade de assistir ao ar livre. Trabalho que demonstra a vitalidade e a persistência do teatro amapaense. Tem como suporte seu idealizador, dramaturgo e artista de teatro Amadeu Lobato. 
     “Uma Cruz para Jesus” já é sinônimo de seu mentor. Amadeu Lobato e sua peça apresentada ao ar livre na área da Fortaleza de São José, também significa e se revela na principal escola de teatro do nosso Estado. Sim! Porque grande parte das pessoas que se dedicam hoje ao teatro amapaense, passaram pela escola do Amadeu Lobato.
    O espetáculo apresentado ao ar livre no entorno da Fortaleza de São José de Macapá, utiliza-se de vários cenários e vários planos, inclusive o plano vertical quando é apresentada a cena de Adão e Eva, sobre da muralha daquela fortificação mais do que centenária. Com sua “Cruz para Jesus” Amadeu Lobato virou escola e se transformou no ícone de um dos maiores teatros ao ar livre do Estado. Considerando-se também a mise en scène da luta dos Mouros e Cristãos que acontece todos os anos na Velha Mazagão.
     Durante todos esses anos acompanhamos de perto a obra do mestre Amadeu Lobato e foram muitas as vezes que seu trabalho foi montado com garra, coragem e decisão, sem nenhum apoio dos órgãos de cultura do Estado e Município. Presenciamos espetáculo com os atores hiper-cansados, com a lateral da Fortaleza (seu espaço cênico) completamente tomado pela lama. Mas, o mais importante é que o público sempre esteve lá, literalmente de pé vendo a ficção e aplaudindo na realidade, os passos de Jesus Cristo.
     Amadeu é um caboclo atrevido e deveras teimoso, não fossem essas características, esse espetáculo já não mais existiria. Esperou décadas para sensibilizar os órgãos competentes, porque o público sempre foi fiel à sua peça.
     Após vários anos de apresentação em muito vem crescendo este espetáculo. Tanto no que diz respeito aos cenários como também à encenação. Sobre a encenação propriamente dita, em muitas cenas do espetáculo colocou-se música ao vivo o que contribuiu imensamente com o desenvolvimento das cenas, como também para a compreensão do público presente. Como este espetáculo se apresenta todos os anos, a lateral da Fortaleza fica completamente lotada e tomada pelo público presente.